Título: GUERRA DE TODOS
Autor:
Fonte: O Globo, 19/07/2005, Opinião, p. 6

Quem mora no Rio cada dia tem mais razões para se sentir sitiado e à mercê dos caprichos do narcotráfico. O último fim de semana ofereceu uma reprise dos piores pesadelos que afligem a vida da cidade.

Na estrada Lagoa-Barra, que liga a Zona Sul à Zona Oeste, confrontos entre policiais e traficantes arruaceiros que participavam de uma festa de aniversário na Rocinha levaram ao fechamento do Túnel Zuzu Angel no começo da noite de sábado, hora de intenso movimento. Como também já está se tornando rotina, bandidos voltaram a atacar e aterrorizar motoristas nas vias de acesso, fazendo arrastões na Dutra e na Manilha-Duque.

E o que faz a Polícia Militar nessas situações? Resposta: quase sempre faz o que pode, e que está longe de ser suficiente para impor a ordem e proteger os moradores. No episódio do Zuzu Angel, tentou conter o pânico, ajudando motoristas atarantados a se safarem do túnel escuro e enfumaçado. Dentro de suas conhecidas limitações, foi bem-sucedida, pois não houve mortos nem feridos graves.

A tarefa de enfrentar traficantes nas ruas e estradas do Rio de Janeiro é, prioritariamente, da PM estadual. Mas engana-se quem pensa que isso é atribuição exclusiva das forças de segurança fluminenses, e que o desafio de conter o narcotráfico é só do governo do estado. Sozinho, o Rio ¿ como, de resto, qualquer unidade da Federação ¿ será incapaz de desmantelar o poderoso esquema de suprimento de armas do tráfico e vencer uma guerra que é de todo o Brasil.

Que é feito do projeto de integração dos órgãos de segurança sob o comando do ministro da Justiça? A implantação desse modelo, que teve êxito no Espírito Santo, sempre avançou, quando o fez, com exasperante lentidão. Agora a crise política parece tê-lo relegado à periferia das atenções de Brasília.

É uma atitude inaceitável. No Rio ¿ onde divergências políticas dificultam as iniciativas de integração ¿ e em outras metrópoles, a insegurança ultrapassou todos os limites. O quadro nacional, de extrema gravidade, exige vigilância perene e ação coordenada imediata dos órgãos de segurança ¿ em todos os níveis de governo, da União ao município.