Título: Land Rover de Sílvio foi pago à vista, diz vendedor
Autor:
Fonte: O Globo, 20/07/2005, O País, p. 14

Telefone deixado por homem que comprou o jipe é da GDK, empresa baiana que ganhou licitação na Petrobras

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Diferentemente do que afirmara o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, o jipe Land Rover, ano 2003, registrado em seu nome, foi comprado à vista, informou ontem o vendedor que intermediou o negócio. Em entrevista ao "Jornal Nacional", Hamilton Costa de Souza, que trabalha em uma agência de carros de Ribeirão Preto, em São Paulo, disse que o carro, que custa R$73.500, foi pago em uma única transferência eletrônica feita da Bahia por um homem chamado José Paulo.

- O seu José Paulo me ligou da Bahia procurando esse veículo e eu ofereci. Pagou à vista, através de uma depósito eletrônico - disse o vendedor, que disse se lembrar em nome de quem o carro foi registrado: - O documento passou a constar no nome de Sílvio Pereira.

O vendedor informou ainda à TV Globo o telefone deixado por José Paulo ao fechar o negócio. O número é da sede da empresa GDK, uma empreiteira baseada na Bahia, que tem contratos milionários para prestação de serviços para a Petrobras na área de construção de dutos e plataformas. Recentemente, a GDK venceu uma concorrência para a reforma da plataforma P-34, da Petrobras, no Espírito Santo. O contrato é de US$90 milhões (cerca de R$215 milhões).

O presidente nacional do PT, Tarso Genro, considerou ontem à noite relevantes as informações e disse que o ex-dirigente pode enfrentar processos políticos e judiciais.

- Se é verdadeira a afirmativa que estou tomando conhecimento neste momento, é uma informação muito relevante para os processos político e judiciais que certamente os dirigentes vão enfrentar - disse Tarso.

CPI: carro pode ter sido presente

Ontem, durante depoimento à CPI dos Correios, Sílvio se negou diversas vezes a falar de seu patrimônio. Diante da insistência do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), Sílvio ficou mudo.

- Não sei se digo que o senhor mentiu ou omitiu... Está comprovado que a negociação foi um mimo recebido da GDK, que tem negócios com a Petrobras - disse Magalhães Neto.

A CPI investiga e já tem quase certeza que o Land Rover foi um presente da GDK. Além disso, a CPI está investigando outras duas suspeitas de vínculos da empresa com o PT. A GDK doou R$400 mil para a campanha do prefeito de Osasco, Emídio Pereira de Souza, coordenada pelo então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), e teria emprestado o jatinho Learjet 35, prefixo PT-MLY, a Sílvio.

Sílvio alegou no depoimento na CPI ter sido orientado por seus advogados a não tratar de seus bens. Ele se limitou a dizer num trecho do depoimento que o carro estava quitado e evitou as perguntas do pefelista baiano.

- Todo o meu patrimônio está declarado no Imposto de Renda - limitou-se a dizer.

O petista não negou ter usado o avião da GDK. Ao ser perguntado pelo deputado, que tinha até uma foto da aeronave, respondeu que viajou poucas vezes de jatinho e que não se lembrava de ter usado o avião do empresário Cesar Oliveira, dono da GDK. Ele admitiu ainda ter mantido "contatos institucionais" com Oliveira.

- Os empresários nos procuravam para saber dos projetos políticos e econômicos do partido - explicou Sílvio no seu depoimento.

GDK nega ter comprado jipe

Petrobras diz que contrato foi auditado

A GDK Engenharia negou ter comprado o jipe Land Rover Defender para presentear o ex-secretário do PT Sílvio Pereira. Em nota, a empreiteira informou também que jamais efetuou pagamento para pessoa física ou jurídica sem relação direta com a empresa. A GDK também informou ontem ao GLOBO que a sua aeronave serve aos seus principais dirigentes. Não negou nem confirmou se o avião foi usado por petistas.

Em nota, a Petrobras afirmou que o contrato do serviço executado pela GDK na plataforma P-34 foi auditado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "O relatório da equipe de auditores afirma, textualmente, que 'o TCU não encontrou indícios de irregularidade na contratação dos serviços'". Ainda segundo a nota, a GDK tem "experiência específica comprovada" para executar o trabalho.

A nota informa que o contrato com a GDK decorreu de uma licitação por convite, para a qual foram chamadas outras nove empresas. De acordo com a Petrobras, a diferença entre a proposta da GDK e a da segunda colocada foi de cerca de US$10 milhões. A nota também destaca que a GDK presta serviços à Petrobras desde 1994. Em 2001, os contratos entre a estatal e a empresa totalizaram R$126 milhões. Em 2002 foram R$430 milhões. Em 2003, R$145 milhões; em 2004, R$512 milhões, e em 2005, R$272 milhões.

Legenda da foto: SÍLVIO PEREIRA em quatro tempos no depoimento à CPI: o petista se recusou a falar sobre seu patrimônio