Título: FALTAM NOMES PARA CPI DO MENSALÃO
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 20/07/2005, O País, p. 14

Governo e oposição quebram cabeça para indicar o presidente e o relator

BRASÍLIA. Ser alvo das CPIs que transformaram o Congresso em delegacia de polícia é apenas um dos problemas do governo no Parlamento. O outro, inusitado, é encontrar nomes capazes de comandar novas investigações de corrupção. Foi esta a razão que adiou para hoje a instalação da CPI do Mensalão, destinada a apurar o suposto pagamento de mesada a parlamentares, além das denúncias de compra de votos na votação da emenda que instituiu a reeleição no governo Fernando Henrique.

Os líderes dos partidos governistas quebram a cabeça para indicar o presidente e o relator da nova CPI. O PMDB no Senado reivindica o primeiro cargo e o mais provável, até ontem, era a escolha de Maguito Vilela (GO). No entanto, ele é vice-presidente da CPI dos Correios e teria de abdicar do posto ou dividir-se entre as duas comissões.

Relator deve ser escolhido nos partidos da base

O relator deve ser escolhido na base, mas não havia conclusão alguma até o início da noite. Chegou-se a pensar em inverter os cargos e optar pelo senador Amir Lando (PMDB-RO) para relator. Lando teve a mesma função na CPI do PC e a comparação seria inevitável.

Um desses líderes chegou a listar os senadores indicados pelo PMDB para a CPI e imaginar se poderiam presidir a comissão. Para o partido e para o governo, dizia-se que o melhor nome seria o do ainda ministro Romero Jucá, que voltará ao Senado e participará da CPI no ligar do suplente, Wirlande da Luz. Jucá, contudo, enfrenta diversos processos.

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) também tenta ocupar um dos postos por meio de acordo. Mas o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), não parece disposto a ceder:

- Nesse caso, não existe o direito das minorias. Se não há acordo, haverá disputa no voto. A experiência da CPI do Banestado, quando o PSDB ganhou a presidência e o PT, a relatoria, foi muito ruim para o país e para o Congresso - diz Mercadante.

A oposição, no entanto, insiste e acusa o governo de quebrar a praxe do rodízio partidário ao não tentar um entendimento.

- Eles não podem continuar fingindo que são maioria em cada comissão que se instale. Nesta CPI, eles terão cinco integrantes e nós seis. Nosso candidato é Jungmann, por consenso ou voto. Se houver disputa, vamos lutar pela presidência - disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio.

Apesar das idas e vindas, a CPI do mensalão deve mesmo começar a funcionar hoje. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), realizou sessão extraordinária ontem de manhã e anunciou os integrantes da CPI.