Título: Saída de Olívio Dutra vira trapalhada na reforma
Autor: Cristiane Jungblut, Luiza Damé e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 20/07/2005, O País, p. 15

Lula convida Márcio Fortes de Almeida para Cidades, mas volta atrás e ninguém mais sabe como ficará a pasta

BRASÍLIA. Em mais uma etapa da arrastada reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ontem com o ministro das Cidades, Olívio Dutra, e comunicou que precisaria do cargo para um nome ligado ao PP: o atual secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Márcio Fortes de Almeida. Lula chegou a oferecer, sem sucesso, a Olívio, amigo de muitos anos, a presidência da Infraero.

Mas o Palácio do Planalto, criando uma situação constrangedora, teve de suspender o processo de confirmação de Fortes ao ser surpreendido com uma forte reação de setores à esquerda do PT gaúcho. Só vai bater o martelo amanhã.

Fortes envolveu-se com contratações sem licitação

Um dos problemas alegados por opositores à saída de Olívio era que, quando secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Fortes tivera problemas com a contratação de empresas sem licitação. O secretário-executivo - que teve essa função nos governos Collor, no Ministério da Minas e Energia, e Fernando Henrique, na Agricultura - também teria tido de explicar diárias que recebera no Desenvolvimento, no início do ano. Temendo desgaste maior, o Planalto decidiu estudar o caso e fazer uma averiguação profunda.

Fortes, que de manhã chegou a confirmar a interlocutores que teria aceito o ministério, no fim da tarde dizia que só se sentiria ministro depois da confirmação de sua escolha pela Presidência da República. Olívio chegou a marcar uma entrevista coletiva para as 16h anunciando sua saída. Já o PP, que comemorava a indicação desde a noite de anteontem, assumiu o discurso de que ele é um nome indicado pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). No entanto, depois de consultar a bancada, o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), negou a informação. Fortes tem o respaldo dos ministros Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, e Antonio Palocci, da Fazenda.

- A decisão da bancada é não participar diretamente do governo, mas apoiar os projetos de interesse do país, mantendo posição de independência em relação ao Palácio do Planalto - disse Janene.

Olívio recusa o consolo da Infraero

Às 9h de ontem, Lula se reuniu com Olívio. Cerca de 24 horas antes, o presidente havia garantido ao amigo que ele ficaria. Olívio disse a pessoas próximas que tem dignidade e que por isso não aceitaria a Infraero. Petistas argumentaram que o partido já perdeu a Saúde e agora ficará sem uma pasta com orçamento de R$16 bilhões.

- Se for confirmado isso, será um retrocesso - reagiu o secretário-geral do Fórum Nacional de Reforma Urbana, Orlando Santos Júnior.

- O ingresso de um novo partido sem identidade programática não ajuda o governo. Estou solidária com Olívio - disse Maria do Rosário (PT-RS).

- Alguns ministérios são para nós muito caros. O das Cidades é característico do governo Lula, nasceu com o PT. Lamento, mas respeito a decisão do presidente - acrescentou Vicentinho.