Título: PT assume dívida de pelo menos R$59 milhões
Autor: Soraya Aggege e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 20/07/2005, O País, p. 11
'Se fôssemos empresa, estaríamos em insolvência. A gestão financeira anterior foi temerária', diz Tarso Genro
SÃO PAULO. O PT começou a abrir ontem a caixa-preta de suas finanças e ficou estarrecido. A dívida assumida, por enquanto, é de R$39 milhões, fora outros R$20 milhões em leasing com o Banco do Brasil para compra de computadores. Ou seja: um rombo oficial de pelo menos R$59 milhões. A maior parte do dinheiro foi esbanjada em carros blindados, sedes luxuosas, shows até para campanhas do PTB do deputado Roberto Jefferson, material para PP e PL, além de uma conta de R$10 milhões com o publicitário Duda Mendonça. Direitos trabalhistas de funcionários e repasses para o INSS, no entanto, estão em atraso. Ainda estão fora desta conta R$45 milhões em dívidas não contabilizadas e explicadas pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares. O novo presidente do PT, o ministro Tarso Genro (Educação), disse que houve uma gestão temerária.
- Se fôssemos uma empresa, estaríamos em situação de insolvência. A gestão financeira anterior foi temerária. Será difícil sair dessa situação - disse Tarso, admitindo que as dívidas podem ser maiores.
O PT pretende amortizar a dívida em 18 meses, com cortes nos gastos. A sede de Brasília deve ser fechada e alguns carros, inclusive blindados usados por Delúbio e pelo ex-presidente José Genoino, serão vendidos. Não estão descartadas demissões de funcionários (são 136 na sede e 26 em Brasília).
O primeiro corte será nos salários da executiva. O novo tesoureiro, deputado José Pimentel, disse que já abriu mão da remuneração. Também serão cobrados os filiados e contribuintes em atraso, diz Pimentel:
- O PT terá de fazer superávit primário, com aumento de receita e corte de despesas. Os cortes são de R$1 milhão por mês, para que em 18 meses a gente liquide as obrigações.
Segundo Tarso, o PT poderá recorrer a uma auditoria:
- Esse montante pode sofrer acréscimo. Mudanças para cima e não para baixo - disse ele.
Ele afirmou ainda que o PT não pagará as dívidas não declaradas internamente, o chamado caixa dois. Segundo ele, a responsabilidade por esses pagamentos é de Delúbio:
- Não podemos assumir uma dívida que não foi contraída formalmente. É um princípio elementar de direito. Quem assumiu essas dívidas sem mandato do partido assumiu ilegalmente. Vejo como uma irregularidade. Da questão moral, eu não farei análise.
Tarso disse que a possibilidade de enriquecimento pessoal de dirigentes do partido deve ser investigada pela polícia.
- O partido quer que as autoridades façam isso rigorosamente, pois não tem aparato nem poder para investigar.
(*) Especial para O GLOBO
As dívidas do partido
Diretórios regionais:R$94.755,00
Fornecedores diversos, incluindo a dívida de R$10 milhões com Duda Mendonça:R$17.296.512,72
Fornecedores: R$529.031,34
Shows: R$7.057.669,00
TBA/License (empresa de softwares de computadores): R$719.317,93
Banco Rural (com aval de Marcos Valério): R$6.219.023,72
Banco BMG (com aval de Valério): R$3.228.944,00
Banco do Brasil: R$3.500.000,00, fora o débito de R$17 milhões com leasing para compra de computadores, pois o PT considera o financiamento como investimento e não dívida
SMP&B: R$351.508,20 (dívida que Valério pagou de juros empréstimo junto ao Banco Rural em julho de 2004, mas o PT não lhe pagou)
Total: R$38.996.761,91
Fonte: Secretaria de Finanças do PT