Título: Juiz afasta PF da investigação sobre mensalão
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 20/07/2005, O País, p. 10

Mudança provoca suspensão momentânea das apurações e complica a busca de provas de irregularidades

BRASÍLIA. O juiz Jorge Macedo Costa, da 4ª Vara Federal de Minas Gerais, decidiu ontem enviar os autos do inquérito do mensalão para o Supremo Tribunal Federal (STF), como pediu Marcelo Leonardo, advogado do empresário Marcos Valério. A transferência do centro da investigação da Justiça Federal para o STF irritou policiais encarregados de investigar a suposta mesada do PT para parlamentares da base governista. Para a PF, a mudança forçará a suspensão momentânea das investigações e, com isso, complicará ainda mais a busca de provas das supostas irregularidades.

Com o inquérito retido na Justiça, a PF teve que adiar a intimação e até mesmo a elaboração de um possível pedido de prisão de Valério. A polícia começou a trabalhar com a hipótese de pedir a prisão preventiva de Valério depois da descoberta de que documentos da DNA, uma das agências de publicidade do empresário, estavam sendo incinerados. Entre estes os papéis parcialmente queimados estavam notas de transações entre a DNA, o Banco do Brasil e o Ministério do Trabalho, entre outras instituições.

- A investigação está, pelo menos por enquanto, parada. Agora temos que aguardar as ordens do Supremo - disse um dos responsáveis pela apuração do caso.

Macedo Costa decidiu remeter o inquérito do mensalão para o STF a partir de um pedido de Marcelo Leonardo, advogado de Valério. Leonardo pediu a troca de jurisdição na semana passada, logo depois que a PF apreendeu na auditoria do Banco Rural, em Belo Horizonte, na quarta-feira passada, uma caixa com a lista dos beneficiários de repasses de dinheiro de empresas de Valério. Na lista dos beneficiários estão vários parlamentares, entre eles o ex-presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), o primeiro a denunciar a existência do mensalão.

- Fizemos o pedido porque, pelas declarações do Valério ao Ministério Público, existem pessoas com foro privilegiado entre os recebedores dos repasses - disse o advogado.

Para a polícia, a medida está amparada na lei, mas pode atrasar as investigações. Os responsáveis pelo inquérito planejavam começar a interrogar ainda esta semana todas os beneficiários do pagamentos das empresas de Valério. Com a suspensão momentânea da investigação, a polícia acredita que os acusados terão mais tempo para elaborar as explicações. Macedo Costa deverá entregar hoje no STF os autos do inquérito. O juiz teria até pedido escolta da polícia para levar os papéis de Belo Horizonte até Brasília.