Título: Coaf derruba versão de saques para uso eleitoral
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 20/07/2005, O País, p. 9

Cronologia das retiradas em dinheiro da SMP&B e da DNA comprova pagamentos fora de período de campanhas

[BRASÍLIA. A cronologia dos saques em dinheiro das contas bancárias das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, do empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, também ajuda a desmontar um dos principais pontos da defesa do PT de que não existia mensalão. Levantamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostra que ocorreram saques de altas somas em dinheiro das contas das duas agências de publicidade no Banco Rural por 16 meses consecutivos, desde julho de 2003 até abril de 2005, com interrupções apenas nos meses de dezembro de 2004 e janeiro e fevereiro deste ano.

O ex-tesoureiro Delúbio Soares negou a existência do mensalão, afirmando que o repasse dos recursos foi para o pagamento de dívidas da campanha eleitoral. O período de saques, no entanto, não coincide com os meses imediatamente posteriores ao fim da campanha de 2002 - quando, supostamente, o PT e partidos aliados estariam quitando dívidas contraídas durante o período anterior à eleição.

Maioria de saques feita em época distante de eleições

A concentração maior de saques da conta da SMP&B aconteceu nos meses de setembro, outubro e novembro de 2003. Portanto, já distante da campanha de 2002 e não tão próximo da campanha de prefeitos e vereadores de 2004. Nesses meses, foram sacados da conta da agência no Banco Rural mais de R$8 milhões.

Os valores variam de mês a mês, mas o levantamento do Coaf mostra a periodicidade nos saques desde julho de 2003, quando aparece o primeiro registro de saque acima de R$100 mil.

As agências de Marcos Valério sacaram do Banco Rural, no período de julho de 2003 a maio de 2005, R$20,9 milhões. O levantamento do Coaf mostra ainda um saque de R$112.600 na conta da DNA no Banco do Brasil. No total, os saques das duas agências de publicidade chegaram a R$21 milhões.

A ausência de saques nos meses de janeiro e fevereiro deste ano coincide com o período da crise que o governo enfrentou com sua base, que resultou na inesperada eleição do deputado Severino Cavalcanti para ocupar a presidência da Câmara dos Deputados. Quando denunciou a existência do mensalão, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse que o pagamento tinha sido interrompido em janeiro de 2005 e isso teria gerado a crise nos partidos da base do governo. Documentos coletados pela CPI dos Correios permitiram a identificação de vários sacadores ligados a partidos aliados do governo, como o PL, o PP e o PTB.

Depósitos de empresas

A CPI dos Correios investiga se contas bancárias da DNA foram usadas para o pagamento de propina a dirigentes públicos ou para outros fins não explicados. A suspeita surgiu com um comunicado do Banco do Brasil ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), entregue à CPI, no qual a instituição informa que, de 1999 a 2005, a conta da DNA na agência Assembléia do BB, em Belo Horizonte, recebeu R$490 milhões em depósitos não justificados. As empresas citadas no comunicado do BB como responsáveis pelos depósitos não constam da carteira de clientes da DNA.

O gabinete do senador baiano César Borges, integrante da CPI, informou que, entre as empresas citadas no levantamento constam os nomes da Amazônia Celular, Telemig, Banco Safra, ABN Bank, Unibanco, Bradesco e BankBoston. César Borges disse que o BB não informou valores e datas de cada depósito. Segundo ele, o volume elevado levanta a suspeita de que empresas privadas usaram a DNA para contribuir para o mensalão.