Título: GOVERNO ARGENTINO LIMITARÁ ENTRADA DE CALÇADOS NO PAÍS
Autor: Janaina Figueiredo e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 21/07/2005, Economia, p. 29

Medida é voltada para a China, mas afeta o Brasil

BUENOS AIRES e BRASÍLIA. O governo argentino adotará medidas para proteger os fabricantes locais de calçados, que reclamam ser vítimas de uma invasão de produtos brasileiros. Segundo fontes da Secretaria da Indústria do país, o governo suspenderá o chamado sistema de licenciamento automático, tornando mais lento o processo de importação de calçados de todos os países, inclusive do Brasil (o procedimento de autorização das importações, que hoje demora dez dias, poderá levar, no mínimo, um mês). Segundo o governo argentino, o objetivo da medida é limitar a entrada de calçados da China. Porém, a barreira também afetará os produtos brasileiros.

¿ Foi negociado um acordo com o Brasil, e a Argentina se comprometeu a respeitar uma determinada participação das importações brasileiras no mercado local, que ainda está sendo definida ¿ disse uma fonte da Secretaria da Indústria, tentando minimizar o impacto da medida no comércio bilateral.

Segundo a fonte, o governo brasileiro foi avisado sobre a decisão do secretário da Indústria, Miguel Peirano, de suspender o licenciamento automático para importações de calçados.

¿ Não gostamos de falar em limitações. O que vamos fazer é administrar o comércio. Nossa principal preocupação é a China, e nisso estamos em plena sintonia com o Brasil ¿ enfatizou a fonte.

Países fecham acordo bilateral satisfatório

Trata-se da segunda medida, em menos de um mês, que o governo de Néstor Kirchner aplica para proteger a indústria nacional. Em 23 de junho, entrou em vigência a resolução ¿A¿ 4.372 do Banco Central da Argentina (BCRA), que exige o pagamento à vista para 1.800 bens de consumo importados, lista que inclui produtos como calçados, têxteis, eletrodomésticos, automóveis, papel, café e frutas tropicais, que representam grande parte das vendas brasileiras para a Argentina.

O governo brasileiro questionou a medida e pediu explicações às autoridades argentinas. Apesar de o governo Kirchner assegurar que informou ao Brasil sobre as medidas que serão adotadas no setor de calçados, em Brasília fontes governamentais negaram ter recebido qualquer informação sobre o assunto.

Para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Brasil e Argentina firmaram, há cerca de duas semanas, um acordo satisfatório. Os empresários brasileiros concordam em limitar, em cotas, suas exportações de calçados, desde que o país vizinho não beneficie países de terceiros mercados, como a China. Segundo o ministro interino do Desenvolvimento, Márcio Fortes de Almeida, o acordo prevê que 75% das importações argentinas de calçados sejam do Brasil.

No fim deste mês, haverá uma reunião entre produtores de vinhos, um dos impasses comerciais entre os dois parceiros do Mercosul.

(*) Correspondente