Título: PF PRENDE EX-GOVERNADOR DA PARAÍBA
Autor: Adelson Barbosa
Fonte: O Globo, 22/07/2005, O País, p. 13

O tucano Cícero Lucena é um dos acusados de desvio de R$13 milhões

JOÃO PESSOA. A Polícia Federal prendeu ontem Cícero Lucena Filho, ex-governador da Paraíba, secretário de Políticas Regionais do governo Fernando Henrique e ex-prefeito de João Pessoa, membro da executiva nacional do PSDB e presidente do partido na Paraíba. Lucena é acusado de fazer parte de uma quadrilha que desviou, segundo a PF, cerca de R$13 milhões de obras públicas através de licitações fraudulentas.

A prisão de Lucena ocorreu por volta das 6h, em sua casa, no bairro do Bessa, na capital paraibana, onde os agentes federais também apreenderam documentos e computadores, por determinação do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF), com sede em Recife.

Lucena foi prefeito de João Pessoa por dois mandatos, é marido da vice-governadora do estado, Lauremília Lucena, ocupa o cargo de secretário de Planejamento e Gestão do governo estadual e articula sua candidatura a senador em 2006.

Fraudadores atuavam em quatro estados

Na operação, chamada de Confraria, a PF também prendeu os empresários Julião Antão de Medeiros e Wagner Péricles Amorim Pereira, acusados de envolvimento nos desvios. Medeiros é dono da Construtora Julião Ltda e sogro do deputado federal Domiciano Cabral (PSDB). Pereira é dono da construtora Link Engenharia. As duas empresas fizeram obras para a Prefeitura de João Pessoa, utilizando o que a PF chama de "licitações esquentadas".

Foram presos também José Javan Trigueiro Bezerra, ex-funcionário da Julião; os ex-secretários de Infraestrutura de João Pessoa (na administração de Lucena) Evandro Almeida e Rubria Beltrão; e Marcelo José Queiroga Maciel. Apenas um dos acusados conseguiu fugir. Trata-se de Fábio Magno de Araújo. Recentemente, ele fora preso no Rio Grande do Sul, pela Operação Tango da PF.

Cerca de 150 policiais federais da Paraíba, de Pernambuco, do Ceará, do Rio Grande do Norte e de Alagoas participaram da Operação Confraria, que contou com o apoio da Controladoria Geral da União (CGU) e do Ministério Público Federal (MPF). Os fraudadores, segundo a PF, atuavam na Paraíba, em Pernambuco, no Ceará e no Piauí.

As principais fraudes, segundo a PF, ocorreram nas obras de esgotamento sanitário e drenagem de águas pluviais do bairro do Bessa e na urbanização da orla marítima. Nas duas obras, os prejuízos aos cofres públicos chegaram a R$5,53 milhões.

De acordo com a PF, além do superfaturamento, as investigações da CGU comprovaram que as obras eram pagas mesmo sem serem realizadas. As empresas foram favorecidas pelas licitações fraudulentas, segundo as investigações da CGU, entre 1999 e 2001. A operação ocorria da seguinte forma: licitações vencidas, de 1991, eram utilizadas na contratação de empresas para a realização de novas obras dez anos depois.

Ao todo, a PF cumpriu sete dos oito mandados de prisão nas cidades de João Pessoa e Cabedelo (PB), em Caicó (RN) e Teresina (PI). Também cumpriu os 27 mandados de busca e apreensão nas cidades de João Pessoa, Cabedelo, Fortaleza, Teresina e Recife.

Legenda da foto: CÍCERO LUCENA (no detalhe) é colocado em um carro por agentes da PF: suspeita de fraudes em licitações