Título: Dinheiro na cueca pode ter saído de empreiteira
Autor: Soraya Aggege e Isabela Martin
Fonte: O Globo, 22/07/2005, O País, p. 13

Investigações apontam que R$437 mil apreendidos com ex-dirigente do PT têm origem em contrato para obra no Nordeste

SÃO PAULO e FORTALEZA. Três frentes de investigações federais sobre a origem dos R$437 mil apreendidos com José Adalberto Vieira da Silva, ex-dirigente do PT no Ceará, apontam que o dinheiro pode ser propina paga pelos responsáveis por um contrato de R$500 milhões da empresa STN (Sistema de Transmissão Nordeste) para construção de uma linha de transmissão de energia no Nordeste.

Segundo o Ministério Público Federal em Fortaleza, a conexão entre os R$200 mil apreendidos na mala e mais US$100 mil (R$237 mil) que estavam na cueca do ex-dirigente petista, no dia 8, pode ser fruto de alguma operação ilícita envolvendo o contrato. Adalberto seria apenas uma mula para levar a propina.

A investigação do Ministério Público Federal reforçou a suspeita de envolvimento do ex-assessor da presidência do Banco do Nordeste Kennedy Moura Ramos e do diretor da empresa Cavan, José de Freitas. A Cavan é uma subsidiária da Alusa (Companhia Técnica de Engenharia Elétrica). A Alusa e a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), subsidiária da Eletrobras, são donas da STN.

Do montante do investimento, o Banco do Nordeste financiou R$300 milhões com dinheiro do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste.

- A principal suspeita é sobre o contrato da STN. Verificamos se ele teria gerado vantagem financeira indevida a algum funcionário do Banco do Nordeste - disse o procurador da República Márcio Torres.

Kennedy conseguiu advogados para Adalberto

Logo após prisão em São Paulo, Adalberto fez contatos com Kennedy, que lhe arrumou advogados. Um dia antes da prisão, no entanto, Adalberto esteve em um escritório em São Paulo com Freitas, segundo as investigações da PF.

Em ofício enviado ontem ao Banco do Nordeste, o Ministério Público Federal solicitou detalhes sobre o contrato e sobre liberações recentes de recursos para as empresas que participam da obra. Em nota, o Banco do Nordeste negou que exista qualquer irregularidade no negócio com a STN. "Os recursos vêm sendo liberados diretamente na conta corrente da empresa, de acordo com a execução da obra", afirma a nota.

Ao depor na Procuradoria na terça-feira, Adalberto confirmou que teve um encontro com Freitas, onde conversaram sobre "coisas banais". Mas o Ministério Público Federal tem fortes indícios de que o encontro entre Adalberto e a pessoa que lhe repassou o dinheiro aconteceu no quinto andar do Edifício Antônio Alves Ferreira Guedes, na avenida Brigadeiro Faria Lima, de propriedade da Regus S/A, empresa que aluga salas de reunião e escritórios virtuais.