Título: Valério era usado por empresas para caixa dois
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 22/07/2005, O País, p. 12

Roberto Brant (PFL) assume que dinheiro sacado por seu funcionário no Rural era contribuição da Usiminas sem registro

BRASÍLIA. O deputado Roberto Brant (PFL-MG) assumiu ontem que os R$102 mil que seu funcionário Nestor Francisco de Oliveira sacou na agência do Banco Rural em Brasília, no dia 27 de agosto de 2004, foram uma contribuição feita pela Usiminas para sua campanha à Prefeitura de Belo Horizonte através de caixa dois. O episódio revela que as agências de publicidade de Marcos Valério eram usadas por empresas privadas para repassar doações ocultas para candidatos, sem registro na Justiça Eleitoral.

O esquema funciona assim: a empresa envia uma doação para um político via agência de Valério e recebe uma nota fiscal como se esta tivesse prestado um serviço de publicidade. Desta forma, as empresas privadas ocultam suas doações e evitam sofrer eventuais retaliações se um adversário for eleito.

Brant, que foi ministro da Previdência do governo Fernando Henrique Cardoso, deu a mesma explicação que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para a doação, dizendo que este procedimento faz parte do sistema eleitoral.

O deputado, que já recebeu garantias do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), de que não sofrerá nenhuma punição, disse que vai retificar sua prestação de contas ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e emitir um recibo em favor da Usiminas.

- Estou confirmando tudo. Recebi dinheiro não contabilizado. Claro que não seria punido pelo PFL. Isso é um fato natural nas campanhas. Quem não tiver recebido dinheiro não contabilizado que atire a primeira pedra - disse Brant.

Brant contou que recebeu, na época, uma ligação da Usiminas informando-o de que a empresa daria uma contribuição de R$150 mil para sua campanha e que o faria usando a agência de publicidade SMP&B, de Valério. Dias depois, relatou, recebeu nova ligação, desta vez da agência, lhe informando que deveria retirar os R$102 mil na agência do Rural. A pessoa que lhe telefonou, segundo contou, explicou que os R$150 mil tinham virado R$102 mil porque era preciso fazer os descontos legais e pagar a comissão da agência.

Ele acrescentou que não tem qualquer ligação com Valério ou suas agências e que somente o fato da Usiminas ser cliente da SMP&B explica seu envolvimento no episódio. O pefelista reconhece que é responsável por seus atos, mas rejeita seu envolvimento no escândalo.

- Recebi uma doação de uma empresa privada. Foi ela quem decidiu que isso seria feito pela agência SMP&B. Usei para pagar o Hiram Pessoa de Mello, responsável pelo programa de televisão - afirmou.

Bornhausen: "Temos confiança integral nele"

A direção do PFL teme que os governistas possam usar este episódio para pedir a cassação do deputado Roberto Brant, sob o argumento de que ele quebrou o decoro parlamentar. O PFL, que há quinze dias expulsou o deputado federal João Batista (SP), porque transportava em malas R$10 milhões da Igreja Universal, e pelo mesmo motivo condenou o deputado estadual George Hilton (MG), decidiu defender Brant.

- Brant reconheceu seus erros e o PFL tem confiança integral nele. Ele não será punido - disse Jorge Bornhausen.

Legenda da foto: ROBERTO BRANT no Congresso: "Recebi dinheiro não contabilizado"