Título: Diretor admite que presenteou Sílvio com jipe
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 22/07/2005, O País, p. 8

Vice-presidente de conselho da GDK diz em nota que Land Rover de R$74 mil foi dado por amizade ao petista

O vice-presidente do Conselho de Administração da GDK Engenharia, Cesar Roberto Santos Oliveira, admitiu ontem ter presenteado o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, com um jipe Land Rover no valor de R$74 mil. Oliveira afirmou que o presente foi dado por conta da amizade que mantém com o petista. Os dois se conheceram no ano passado. Em nota, o empresário revela que o presenteou depois que Sílvio "manifestou a intenção em adquirir um veículo Land Rover". A GDK é uma das maiores importadoras de veículos da marca inglesa.

A declaração de Oliveira complica mais a situação de Sílvio, já que ele dissera que havia adquirido o veículo por meio de um financiamento. Na nota, Oliveira conta que comprou o carro "de livre e espontânea vontade, em caráter estritamente pessoal" para presentear o petista.

O advogado Martim de Almeida Sampaio, que representa o vice-presidente da GDK, disse ao GLOBO que seu cliente adquiriu o veículo com recursos "oriundos de distribuição de lucros".

- Foi um presente de amigo para amigo. Ele (Oliveira) estava preocupado e por isso não se manifestou antes. Disse a ele que como não se trata de presente para um funcionário público, ele não tem o que temer - disse o advogado.

Há três semanas, o próprio petista levou o carro, de placa DKB 8091, para uma concessionária de São Paulo. Dez dias depois, ele mesmo voltou à loja e colocou o carro à venda. Avaliado em R$74 mil, Sílvio tenta vender o veículo por R$80 mil (R$6 mil a mais) por conta da colocação de uma grade que protege os faróis dianteiros.

Agência se recusa a revender o veículo

Ao saber que se tratava de um veículo pertencente a Sílvio, a revendedora desistiu ontem do negócio.

- Nós não sabíamos que se tratava do carro de alguém do PT envolvido em denúncias. Estamos agora tirando da venda para evitar problemas futuros - disse um vendedor, por telefone, ao "Jornal Nacional".

O vendedor de veículo Hamilton Costa Souza, de Ribeirão Preto, cidade onde o carro foi comprado, declarou ter negociado a venda do carro com José Paulo dos Santos Reis, que falara em nome da GDK. Ontem o advogado da GDK, Oliveira Sampaio, confirmou que Reis é um dos assessores da diretoria, na sede da empresa em Salvador. Santos Reis está licenciado porque casou recentemente.

Empresas fez doações para campanhas petistas

A GDK, além de ter fechado um contrato de US$90 milhões no governo federal para reforma da plataforma P-34 da Petrobras, tem sido uma das mais generosas doadoras das campanhas eleitorais do PT. Em 2004, doou R$400 mil para a campanha do petista Emídio Pereira de Souza, em Osasco, cidade onde Sílvio morava e onde começou a carreira como dirigente do PT na década de 80. A GDK fez as doações em agosto de 2004, um mês depois de a empresa obter contratos com o governo federal. A campanha de Emídio foi apoiada pelo ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, que também mora em Osasco.

O ex-vereador petista de São Paulo Nabil Bonduki recebeu R$2 mil da GDK para sua campanha. Em 2002, a GDK também fez doações para petistas.

A relação de amizade teria rendido a Sílvio outras regalias. A CPI dos Correios apura informações de que o petista usava um jatinho da GDK para se locomover por todo o país. Aos parlamentares, Sílvio admitiu que usava aviões particulares, mas que não se lembrava se alguma vez usara a aeronave da GDK. Sílvio disse ter tido só uma "relação institucional com Oliveira".

O "relacionamento institucional" que se transformou ao longo do tempo em amizade teria rendido vários encontros entre os dois na sede da empresa, em São Paulo. Tido como a figura responsável por distribuição de cargos no governo e com livre trânsito em gabinetes, Sílvio tinha abertura para apresentar empresários a ministros.

O secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini disse que a situação do ex-secretário do partido, Sílvio Pereira, ficou "completamente complicada":

- Imagine se a cada manifestação de um dirigente partidário um empresário resolve dar um presente, o que vai ser deste país? - afirmou Berzoini que voltou a defender a expulsão de Sílvio e do ex-tesoureiro Delúbio Soares.

COLABOROU Adauri Antunes Barbosa

"Foi um presente de amigo para amigo. Ele não tem o que temer"

MARTIM DE ALMEIDA SAMPAIO , Advogado do diretor da GDK

FIAT ELBA ATINGIU COLLOR

Um carro, um fantasma e a prova que faltava: nas investigações da CPI do PC, em 1992, os parlamentares tinham claras evidências do envolvimento do ex-presidente Fernando Collor de Mello com as atividades ilegais do empresário PC Farias. Faltava apenas comprovar a ligação. A prova foi a descoberta de que Collor comprara um Fiat Elba, em abril de 1991, pagara com recursos da conta de um fantasma, José Carlos Bonfim. A conta era movimentada pelo piloto de Collor, Jorge Bandeira, sócio de PC nas empresas que ambos mantinham e que pagavam despesas do presidente e da primeira-dama, Rosane Collor.

Legenda da foto: SÍLVIO PEREIRA, que dissera que o jipe foi comprado parcelado