Título: Mentor recebeu R$120 mil de Marcos Valério
Autor: Bernardo de la Peña/Demétrio Weber/Gerson Camarott
Fonte: O Globo, 22/07/2005, O País, p. 9

Procurador-geral deve pedir abertura de inquérito contra os sete parlamentares suspeitos de envolvimento com o esquema

BRASÍLIA. Com a descoberta de que a empresa do deputado José Mentor (PT-SP), que foi relator da CPI do Banestado, também recebeu dois cheques do Banco do Brasil num total de R$120 mil do publicitário Marcos Valério, cresceu ontem para sete o número de parlamentares que receberam diretamente ou tiveram assessores e parentes entre os destinatários de dinheiro vindo das contas do acusado de ser o operador do mensalão. O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, deve pedir ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para investigar os parlamentares envolvidos.

Ele passou o dia analisando os dois volumes do inquérito que tramitava em Minas Gerais e os 32 volumes de documentos apreendidos pela Polícia Federal mineira. Da papelada, segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), consta uma lista de 129 pessoas que receberam dinheiro das contas de Valério. Para o procurador-geral, o assunto deve ficar no STF. Na prática, isso significa que da lista deve constar nomes de parlamentares, assessores ou pessoas ligadas a eles.

Mentor confirmou que recebeu dois cheques das empresas do publicitário de R$60 mil cada. Os cheques do Banco do Brasil, segundo ele, são referentes ao pagamento de honorários advocatícios. O petista contou que entre maio e julho de 2004 foi contratado por Rogério Tolentino, sócio de Valério, para prestar consultoria jurídica. Ele alegou sigilo profissional para não revelar os serviços prestados. Mentor disse que os cheques que totalizam R$120 mil foram emitidos para o seu escritório de advocacia, o José Mentor, Pereira Melo e Souza Advogados Associados. Mentor acrescentou que o primeiro cheque foi emitido pela Tolentino e Melo Consultores e depositado direto na conta do escritório. O segundo cheque foi emitido pela 2S Participações, empresa de Valério e sua mulher, Renilda.

Além de Mentor, os deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), Josias Gomes (PT-BA), João Paulo Cunha (PT-SP), Paulo Rocha (PT-PA), José Janene (PP-PR) e Roberto Brandt (PFL-MG) têm ligação direta ou indireta com os saques feitos na conta da SMP&B no Banco Rural.

As relações de Mentor com o empresário já tinham vindo à tona desde que o esquema começou a ser investigado: ele aparece na agenda da ex-secretária de Valério, Fernanda Karina, e no caderno de telefones dele constam dois celulares do petista.

O deputado foi o responsável pelo relatório da CPI do Banestado, que acabou não sendo votado. O Banco Rural, por onde passou a maior parte dos milhões de reais sacados por Valério de suas contas, chegou a ser investigado pela comissão. Mentor nega que tenha qualquer relação entre o pagamento e o fato de ter excluído da CPI do Banestado o Banco Rural do relatório final.