Título: VAREJO E INDÚSTRIA DÃO SINAIS DE DESACELERAÇÃO
Autor: Aguinaldo Novo e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 22/07/2005, Economia, p. 25

Supermercados reduzem previsão de crescimento e CNI registra risco de queda de exportações

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O pessimismo com a economia começa a contaminar setores da indústria e do varejo no país. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgaram ontem pesquisas que demonstram preocupação com o cenário econômico nos próximos meses. A Abras reduziu a estimativa de crescimento do setor para este ano de 3% para uma variação de 2% a 2,5%, repetindo o índice de 2004.

Já a Sondagem Industrial da CNI aponta uma queda na expectativa de exportações para os próximos seis meses, de 54,9 pontos em abril para 45,9 em julho (abaixo dos 50 pontos que funciona de divisor entre otimismo e pessimismo). Trata-se do primeiro índice negativo desde outubro de 1998, levando-se em conta uma escala de zero a 100.

Para o chefe do Departamento Econômico da CNI, Flávio Castello Branco, o cenário estimado pelos empresários para as exportações se deve à valorização do real em relação ao dólar. Mas esse pessimismo, destacou Castelo Branco, não atinge as grandes empresas já acomodadas ao mercado internacional, e sim as pequenas e médias, e aquelas que estão começando ou em vias de iniciar negócios no exterior.

- O câmbio valorizado é a única explicação que encontramos para a queda das expectativas - observou.

Pelo segundo trimestre consecutivo, o indicador de emprego ficou abaixo de 50 pontos. Em julho, a pontuação era de 48,8. Embora as grandes empresas ainda não estejam registrando corte de postos de trabalho, pode-se dizer que as pequenas e médias já estão demitindo, diz a CNI.

Vendas dos supermercados recuaram 3,62% em junho

No varejo, a Abras afirma que o resultado do ano vai depender fundamentalmente do desempenho das vendas no Natal.

- Nós não esperávamos uma desaceleração tão rápida como a que ocorreu nos últimos meses - afirmou ontem o presidente da Abras, João Carlos de Oliveira.

A revisão do crescimento veio com anúncio do terceiro mês de queda de vendas consecutivo. Pela pesquisa da Abras, as vendas reais (deflacionadas pelo IPCA) recuaram 3,62% em junho na comparação com maio. Com isso, o resultado acumulado do primeiro semestre ficou positivo em 3,68%, depois de ter chegado a 8,62% no final de março.

- Se chegarmos a dezembro com um ganho de 2% ou 2,5% já será bom - disse Oliveira.

A nova previsão da Abras endossa estimativas já divulgadas individualmente pelas empresas. Depois de prever um crescimento de 3% do faturamento pelo conceito de mesmas lojas, o Pão de Açúcar revisou na semana passada seu número para zero. Líder do segmento no país, o grupo registrou em junho crescimento de 1% em termos nominais, mas queda de 5,8% em termos reais.

A pesquisa da Abras também revelou que o brasileiro faz em média quatro compras mensais nos supermercados e gasta, de cada vez, R$19. Mas existe uma diferença importante nesse movimento quando se considera as classes sociais. A pesquisa revelou que o público principal dos supermercados são os consumidores das classes A e B, que vão em média cinco vezes por mês às lojas e gastam R$23 em cada compra. Já nas classes D e E, o gasto não passa de R$16.