Título: RISCO DEVE CAIR COM TROCA DE TÍTULOS
Autor: Luciana Rodrigues e Enio Vieira
Fonte: O Globo, 22/07/2005, Economia, p. 24

Operação para substituir C-Bonds pode melhorar avaliação do Brasil

RIO e BRASÍLIA. A grande operação de troca de títulos da dívida negociados no mercado internacional que o governo brasileiro encerra hoje pode ser um importante passo para melhorar a avaliação de risco do país. O Tesouro Nacional pretende alongar em até quatro anos uma parcela da dívida externa hoje denominada em C-Bonds, títulos lançados em 1994 na renegociação após a moratória da década de 1980. Além de ter impacto imediato no chamado risco-país - medida da confiança dos investidores no país, calculada com base nas cotações dos títulos da dívida externa - a troca pode apressar o tão sonhado investment grade, o carimbo de aprovação das agências de classificação de risco, que os investidores levam em conta para decidir aonde levar seu dinheiro.

Com o C-Bond, o Brasil tem a obrigação de pagar, desde abril do ano passado, parte do principal da dívida a cada semestre, num total de US$300 milhões. Para Ricardo Amorim, chefe de pesquisa para a América Latina do WestLB em Nova York, a grande vantagem é que os novos títulos não terão essas amortizações semestrais:

- Isso deixa o país menos vulnerável a crises de liquidez. É importante para um possível upgrade (melhora de avaliação) pelas agências de risco.

Para analistas, troca pode alcançar 90% dos títulos

O Brasil é o único entre os grandes países emergentes que não é considerado investment grade. China, Rússia, Índia, África do Sul, Chile e México, entre outros, já fazem parte do seleto grupo. E a China, quarta-feira, recebeu novo upgrade.

Para Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores, a troca de títulos aumenta a credibilidade do Brasil no mercado internacional. Ele lembra que o país teve melhoras em importantes indicadores acompanhados pelas agências de rating. Mas ainda está longe dos patamares das nações que têm investment grade. Enquanto nossa dívida pública é de cerca de 50% do PIB, no México e no Chile fica abaixo de 35%. E o Brasil ainda patina na expansão econômica (a taxa média foi de 2,5% ao ano desde 99, contra 8% da Rússia no período).

- O Brasil está mostrando boa vontade. Mas, para as agências de risco, o que importa é a capacidade de pagamento. E por isso é importante avançar mais nesses indicadores - diz Pereira.

Rafael Guedes, diretor da agência Fitch, a troca do C-Bond é importante, mas pesa pouco na avaliação sobre o país:

- São US$5 bilhões, numa dívida externa total de US$200 bilhões - afirma.

O governo brasileiro anuncia hoje o resultado da troca de títulos, e a expectativa é que a procura seja grande. Analistas estimam que a troca supere 90% dos US$5,6 bilhões que existem em C-Bonds no mercado. Ontem, o governo informou o prazo dos novos títulos, que vencerão entre 2014 e 2018. Ou seja, será um alongamento da dívida de até quatro anos, já que o C-Bond vence em 2014.

- O prazo superou as estimativas, o que indica que a demanda é grande. Todo mundo quer trocar para não ficar com um papel pouco negociado nas mãos - disse o operador de uma grande corretora.

O banco HSBC distribuiu relatório orientando seus clientes a participarem da troca ou a vender os C-Bonds que têm em carteira. E calculou que o prazo médio dos novos títulos seria de três anos e meio.

Traduzindo o Economês

VANTAGENS: Além de alongar o prazo da dívida - o C-Bond vence em 2014 e o novo título terá prazo até 2018 - a troca reduz as necessidades de pagamento do Brasil. O C-Bond é o único título brasileiro que paga, além de juros, parte do principal a cada semestre. Haverá então um alívio nas contas do país, que tem pagamentos elevados em 2006 (cerca de US$5 bilhões para o total da dívida) e em 2007 (US$6,7 bilhões).

RISCO-BRASIL: Pelas regras do C-Bond, o governo pode recomprar o título por 100% de seu valor sempre que ele ultrapassar esse patamar. Ontem, o C-Bond fechou a 102,15% e, por causa dessa regra, fica difícil o título se valorizar mais. Com o C-Bond estacionado num mesmo valor, o risco-país (que é calculado com base nas cotações dos papéis brasileiros) encontra uma barreira para cair.

MAIS COMPRADORES: Grandes seguradoras e fundos de pensão são proibidos de comprar títulos oriundos de renegociações pós-moratória, como o C-Bond. Com a troca, a demanda pelos novos títulos poderá ser maior.