Título: DÍVIDA AUMENTOU EM R$95 BILHÕES NO 1º SEMESTRE DEVIDO ÀS ALTAS DA SELIC
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 22/07/2005, Economia, p. 24

Despesa com juros cresceu R$ 67 bi, respondendo por 70% do crescimento

BRASÍLIA. Os nove aumentos consecutivos da taxa básica, a Selic, entre setembro de 2004 e maio deste ano provocaram forte impacto na conta dos juros desembolsados pela União. A dívida federal em títulos públicos cresceu R$95,24 bilhões no primeiro semestre de 2005 - sendo que 70,42% deste aumento vieram dos juros, cuja despesa cresceu R$67 bilhões. Também contribuiu uma emissão líquida de novos papéis de R$28,1 bilhões. Os encargos da dívida, pagos por meio da economia de recursos com o superávit primário, são cinco vezes maiores do que os R$13,1 bilhões gastos, entre 2001 e 2004, com o maior programa social do país, o Bolsa Família.

Somente em junho, o estoque da dívida ficou em R$905,5 bilhões, um crescimento de 1,98% em relação a maio. Nesse período, houve uma emissão líquida de títulos de R$4,3 bilhões, além da incorporação de juros. É a primeira vez que o débito atinge o patamar de R$900 bilhões. Mas, apesar do aumento constante, o coordenador da dívida pública, Paulo Valle, afirmou que a trajetória está dentro do planejado pelo Tesouro Nacional.

O governo estima que a dívida federal feche o ano com um estoque entre R$940 bilhões e R$1 trilhão. Valle lembrou que a taxa de rolagem está em 111,8% este ano. Isso significa que o governo tem conseguido alongar a dívida que está para vencer e ainda tem emitido novos títulos, ampliando prazos, o que melhora a percepção sobre a capacidade de pagamento do país.

A parcela do endividamento composta por prefixados - títulos cuja taxa de remuneração é estipulada na hora da emissão, o que permite maior previsibilidade - aumentou de 22,1% em maio para 23% em junho devido a uma emissão líquida desses títulos no valor de R$9 bilhões. Já a participação de papéis remunerados pela Selic - que acompanham as decisões do Banco Central - caiu de 57,8% para 57,1% no mesmo período. Neste caso, houve um resgate líquido de R$4,3 bilhões.

- Estamos conseguindo manter nossa estratégia de aumentar a participação de prefixados e reduzir a dívida indexada à Selic - disse Valle.

A parcela da dívida indexada ao câmbio também voltou a cair em junho, passando de 4,3% em maio para 4,1% no mês passado. Em junho, a exposição cambial diminuiu em R$700 milhões devido, principalmente, ao efeito da apreciação cambial.

Prazo médio da dívida ficou mais curto

Quanto à composição, a maior procura foi por Letras do Tesouro Nacional (LTNs, prefixadas), que representaram 63,65% das vendas de junho. Em segundo lugar, ficaram as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs, indexadas à Selic), cujas vendas no mês passado foram de 25,47% do total.

O prazo médio de vencimento da dívida, porém, ficou mais curto em junho, passando de 27,5 meses em maio para 27,1 meses. E o endividamento de curto prazo (de até 12 meses) subiu ligeiramente. Este passou de 43,8% do estoque para 45,3%. Isso significa que o governo fica obrigado a ter mais recursos em caixa para honrar esses compromissos.

As vendas de títulos públicos por meio do Tesouro Direto - programa pelo qual pessoas físicas podem adquirir papéis do governo pela internet - somaram R$53,3 milhões em junho. Já o número de investidores cadastrados chegou a 1.238 no mês passado.

inclui quadro: confira os números / dívida federal em títulos públicos