Título: MERRILL LYNCH REBAIXA RECOMENDAÇÃO DE TÍTULOS BRASILEIROS E RISCO-PAÍS SOBE
Autor: Enio Vieira e Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 23/07/2005, Economia, p. 22

Dólar tem a segunda maior alta do ano. Troca de C-Bonds atinge US$4,4 bi

BRASÍLIA e RIO. A corretora americana Merrill Lynch rebaixou ontem a recomendação dos títulos da dívida brasileira de overweight (acima da média do mercado) para market weight (na média do mercado). Segundo a empresa, a principal razão são as incertezas trazidas ao mercado pela combinação das previsões do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Alan Greenspan - de que a taxa de juros do país, hoje em 3,25% ao ano, deve encerrar 2005 em 4%, o que pode reduzir o fluxo de recursos para países emergentes - com a valorização da moeda chinesa, o yuan, anunciada quinta-feira.

A corretora também informou, em relatório, que a decisão foi influenciada pela percepção de que o risco político no Brasil deve aumentar "à medida que as investigações (dos escândalos de corrupção) chegam a uma fase crítica".

A decisão fez a taxa do risco-Brasil (que mede a confiança dos investidores estrangeiros no país) subir 3,12%, para 417 pontos centesimais, e o Global 40 - título da dívida brasileira mais negociado no exterior - cair 0,13%, a 117,75% do valor de face. Já o C-Bond, outro título da dívida externa do Brasil, subiu 0,49%, a 102,65% do valor de face, alta estimulada pela bem-sucedida operação de troca do papel que vem sendo realizada pelo Tesouro Nacional desde a última segunda-feira.

Ontem, o governo brasileiro anunciou que trocou US$4,4 bilhões do C-Bond por um novo bônus global, chamado de Amortization Bond (A-Bond). O principal resultado da operação foi o alongamento do prazo de vencimento, de abril de 2014 para janeiro de 2018, o que dá uma folga futura para o caixa do governo. O resultado ficou acima das expectativas do mercado, que calculava uma procura de US$3 bilhões por parte dos investidores. Alguns especialistas mais otimistas chegaram a apostar numa troca de até 90% dos papéis - no fim, o percentual ficou em 78%.

Petrobras anuncia desdobramento de ações

O A-Bond terá as mesmas características do atual C-Bond, como a taxa de 8% ao ano. Os pagamentos de juros serão igualmente semestrais. O início de pagamento da parcela principal de US$4,4 bilhões será em julho de 2009. Com a operação, resta agora US$1,2 bilhão em C-Bonds no mercado, mas uma parte está na carteira do Banco Central, que não revela valores.

O C-Bond foi emitido no chamado Plano Brady, em 1994, para renegociação da dívida externa brasileira e dos demais países que decretaram moratória nos anos 1980. A emissão original foi de US$7,4 bilhões de C-Bonds, e o Brasil vem realizando trocas desde 2000.

Além do rebaixamento dos títulos brasileiros pela Merrill Lynch, influenciou o mercado um artigo publicado pelo jornal "Financial Times", que questiona se as condições da economia que vêm favorecendo o país se manterão com a crise política. A Bolsa de Valores de São Paulo caiu 1,75% (25.391 pontos) e o dólar subiu 1,73%, a segunda maior alta percentual do ano, e fechou a R$2,398.

- O noticiário ruim de hoje (ontem) foi significativo para definir uma nova dinâmica para os mercados. Se até a semana que vem a Bolsa não reagir e retomar os 26.800 pontos, a tendência é de queda acentuada e, na ponta de dólar e juros, uma guinada para cima - avaliou Avelino Gonçalves de Almeida Filho, diretor da gestora de recursos Lógica do Mercado.

Operadores disseram que o relatório da Merrill Lynch elevou a cautela dos investidores estrangeiros e locais, que venderam ações. Apenas sete papéis dos 55 listados no Ibovespa, o principal índice da Bolsa, fecharam em alta. Entre eles estão os da Petrobras, beneficiados pelo anúncio ontem do desdobramento das ações da empresa: cada papel que o investidor tiver no dia 31 de agosto equivalerá a quatro novos da mesma espécie. Este desdobramento permitirá a queda do preço unitário e o acesso de mais investidores, aumentando a liquidez dos papéis.

INCLUI QUADRO: O COMPORTAMENTO DO MERCADO / C-BOND NO MÊS