Título: TÉCNICOS ANALISAM 20 CONTAS BANCÁRIAS
Autor: Bernardo de la Peña e Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 23/07/2005, O País, p. 12

Volume de informações vai obrigar a trabalho extra no fim de semana

BRASÍLIA. O volume de informações, operações e saques feitos pelo publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do esquema de pagamentos a deputados da base aliada, vai obrigar os técnicos da CPI dos Correios e do Banco do Brasil a passar o fim de semana debruçados sobre dezenas de caixas com papéis, resultado da quebra do sigilo bancário do publicitário e das suas empresas.

Valério tem 18 empresas. Pelas mais de 20 contas em pelo menos seis bancos, passaram mais de R$1,5 bilhão nos últimos cinco anos. O que deve dar mais trabalho aos técnicos no fim de semana será a análise da documentação enviada pelo Banco do Brasil. Os integrantes da CPI já identificaram R$59 milhões em saques nas contas das empresas do publicitário.

Maior parte é de transferências

Os técnicos do Banco do Brasil, entretanto, argumentam que a maior parte do que está sendo classificado como "saques" é na verdade transferência eletrônica ou dinheiro retirado das contas para entrar novamente no sistema financeiro com o pagamento de algum título ou transferência.

Além disso, explicam ainda que o valor pode ser o resultado da soma de transferências feitas também entre contas das próprias empresas do publicitário ou o resgate de algum investimento.

Por enquanto, os técnicos já analisaram parte do material enviado pelo BMG, pelo BankBoston, pelo Rural e pelo Banco do Brasil. As investigações da CPI avançaram mais na análise dos saques feitos em dinheiro das contas da SMP&B e da DNA Propaganda.

Saques chegam a R$30 milhões

Os saques já chegam a aproximadamente R$30 milhões - nem todos os documentos já foram analisados - e pelo menos sete parlamentares já foram identificados como tendo relação direta ou indireta com as retiradas investigadas pelos integrantes da comissão.

O tucano Gustavo Fruet (PR), sub-relator da comissão que deverá trabalhar analisando os dados referentes à movimentação financeira, explicou que a maior parte das operações financeiras que estão sob suspeita foi feita por Valério no Rural. O deputado cita como exemplo o empréstimo de R$15 milhões tomado pela Grafitti, uma das empresas do publicitário, que teria sido repassado ao PT e para o qual Marcos Valério teria dado como garantia seu contrato de publicidade com os Correios.

Pelo que mostram os documentos referentes a esta operação financeira, já recebidos pela CPI, ao receber o empréstimo, o dinheiro foi todo transferido da conta no BMG para o Rural, de onde teria sido distribuído, segundo a versão de Valério, para as pessoas e empresas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

O total de empréstimos tomados por Valério para repassar ao PT chegaria a R$45 milhões, que, com juros e multas, passa dos R$90 milhões.