Título: CPI vai pedir à PF que investigue Banco Rural
Autor: Bernardo de la Peña e Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 23/07/2005, O País, p. 12

Instituição financeira pode ter que responder por adulteração de documentos, fraude e obstrução da investigação

BRASÍLIA. A CPI dos Correios vai pedir que a Polícia Federal investigue o Banco Rural, porque faltaram, no material enviado pela instituição aos parlamentares, informações sobre a quebra de sigilo das contas de empresas de Marcos Valério.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), nomeado sub-relator de Movimentação Financeira da CPI, disse que o Banco Rural poderá responder por adulteração de documentos, fraude e obstrução da investigação. Ele contou que, nos dados eletrônicos enviados à CPI, há arquivos que não abrem ou simplesmente não contêm informação.

- Os dados incompletos do Banco Rural precisam de uma investigação - disse Fruet.

O relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que será preciso tomar medidas drásticas se os dados completos não forem repassados até a semana que vem. Ele adiantou que a CPI fará operações de busca e apreensão nos casos em que não houver colaboração. Ele evitou dizer o nome das empresas ou bancos, mas reclamou da demora do Banco de Brasília (BRB) em encaminhar dados.

A CPI enfrenta problemas também para contabilizar a movimentação das empresas de Marcos Valério no Banco do Brasil. Serraglio evitou polemizar com o fato de o BB ter alegado falta de clareza à solicitação feita pela CPI. Segundo ele, funcionários do BB trabalham para detalhar os saques acima de R$30 mil, indicando origem e destino do dinheiro movimentado.

Auditores vão reforçar comissão

O relator admitiu que, sem esse detalhamento, não é possível afirmar quanto foi sacado das contas, pois eram freqüentes as transferências de dinheiro entre contas das empresas do grupo de Valério. Fruet concordou:

- Ainda não entendemos a lógica da movimentação nas contas das empresas de Marcos Valério - disse Fruet.

A comissão receberá o reforço de novos auditores do Tribunal de Contas da União, além do apoio permanente de um técnico do Banco do Brasil e de um procurador da República. Para acelerar a investigação, Serraglio vai propor a criação de subgrupos que tomariam mais de um depoimento por dia. Segundo ele, há cerca de cem requerimentos nesse sentido. O relator afirmou que devem ser chamados os cinco ou seis maiores sacadores na conta do Rural.

Ontem chegaram à CPI dados relativos à quebra do sigilo telefônico de Marcos Valério, de sua mulher, Renilda, e das empresas do casal. Também chegaram informações da quebra de sigilo bancário do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que denunciou o esquema do mensalão, e do empresário Arthur Waschek, que assumiu ter mandado gravar o flagrante de corrupção do ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho.

Legenda da foto: OSMAR SERRAGLIO, relator da CPI: pilhas de documentos com a movimentação financeira das empresas de Valério para serem analisados