Título: PF investigará ligação Delúbio-máfia do INSS
Autor: Jailton de Carvalho e Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 23/07/2005, O País, p. 9

CPI requisita cópia dos diálogos em que cúmplices de Arrieta falam sobre pagamento de caixinha a políticos

BRASÍLIA. O Ministério Público Federal vai pedir à Polícia Federal a identificação e a localização de todas as pessoas com quem Márcio Pavan, um dos principais integrantes da organização do argentino César de la Cruz Arrieta, conversou por telefone no início deste ano antes de ser preso na Operação Tango, da PF. Relatório reservado do Ministério Público, divulgado ontem pelo GLOBO, contém trechos de conversas de Pavan sobre formação de caixinha para a compra de apoio político na Câmara e citações ao tesoureiro licenciado do PT Delúbio Soares e aos deputados José Dirceu (PT-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Integrantes da CPI dos Correios anunciaram que vão requisitar cópias dos papéis. Nas conversas, Pavan e outros integrantes da organização de Arrieta, argentino acusado de chefiar uma das mais famosas quadrilhas de fraudadores da Previdência, falam sobre R$10 milhões que o PT teria pagado ao PTB e mencionam o Banco Rural. As conversas foram gravadas pela PF com autorização judicial em janeiro e fevereiro deste ano, seis meses antes de Jefferson denunciar o mensalão.

- É urgente a requisição desse material, a denúncia é da maior importância e gravidade - afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Dirceu: "Não encontraram nada que me incriminasse"

Em nota, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu negou que tenha qualquer vínculo com fraudadores da máfia do INSS. O ex-ministro disse que não conhece Arrieta, Pavan ou qualquer um de seus interlocutores flagrados em conversas comprometedoras pela polícia. "Não tenho nada a ver com a máfia do INSS a não ser o fato de ter mandado investigá-la", diz o texto, distribuído pela assessoria do deputado.

"Tentam me vincular a tais ilícitos em busca de argumentos para me desmoralizar, tendo em vista que as investigações em curso no Congresso Nacional não encontraram nada que me incriminasse. Pelo contrário, todos os depoentes me isentaram de qualquer participação nos atos denunciados", acrescentou o ex-ministro.

O presidente do PT, Tarso Genro, disse que as denúncias não têm fundamento.

- Essa alusão parece que não tem qualquer fundamentação. São gravações de pessoas que mencionam o nome de outras pessoas. É muito grave que isso tenha sido publicado - disse Genro.

Uma das conversas mais reveladoras de Pavan foi gravada entre as 19h32m e 19h50m, do dia 2 de fevereiro. Num diálogo com Marcelo, suposto contato de Arrieta em Brasília, Pavan diz que Delúbio juntou R$10 milhões para o PTB. "Esse dinheiro é para o Ricardo (sic) Jefferson do PTB para ele acomodar a gurizada dele", diz.

Gravações são enviadas para o procurador-geral

Em abril, Pavan e outros integrantes da organização de Arrieta foram presos pela Operação Tango, destinada a coibir fraudes contra a Receita. Os trechos das conversas sobre pagamentos a políticos foram deixados em segundo plano, na ocasião. Um dos procuradores sustenta que, naquele momento, as informações não foram consideradas relevantes.

Agora, os responsáveis pela Operação Tango decidiram enviar as informações para o procurador-geral da República, Antônio Fernando Barros Souza. Entre as pessoas citadas por Pavan existem vários políticos.