Título: `LULA GOZA DO BENEFÍCIO DA DÚVIDA¿
Autor: Soraya Aggege e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 24/07/2005, O País, p. 4

Novo secretário-geral do PT diz que petistas têm que reconhecer os erros

Um dos bombeiros escalados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudar a conter a crise no PT, o novo secretário-geral, deputado Ricardo Berzoini (SP), engenheiro de formação e sindicalista na militância, começa a pensar nas eleições de 2006. Berzoini planeja a campanha eleitoral com uma nova base de alianças, menos recursos financeiros e pouca interferência de publicitários. E pretende lançar uma campanha pela retomada do orgulho petista.

O senhor tem defendido posições mais duras do PT contra os dirigentes acusados.

RICARDO BERZOINI: O PT deve agir de maneira totalmente transparente. Apurar as responsabilidades partidárias, que são diferentes de responsabilidades criminais ou de decoro parlamentar. É o decoro partidário. Apurando, vamos tomar a decisão, doa a quem doer, sem levar em conta sentimentos pessoais. Convivi com o Delúbio (Soares), no PT, na CUT, e, por mais que doa em mim, não posso me pautar por isso. Ele errou gravemente, organizou as finanças do PT sem dar conhecimento sequer ao presidente do partido.

E quanto a José Genoino?

BERZOINI: Eu reconheço a militância de quatro décadas, o compromisso partidário, o desempenho brilhante no Parlamento, mas isso não me impede de entender que, a partir do momento em que assinou documentos junto com Marcos Valério, ele perdia a condição de ser presidente, o que não tira seu valor como militante, como cidadão. Tenho certeza que o Genoino, em momento algum, pensou em fazer algo em benefício próprio ou em prejuízo do PT. O PT deve ampliar a capacidade de reconhecer erros.

O senhor exime o deputado José Dirceu, ex-presidente do PT, de responsabilidades?

BERZOINI: Não vou eximir nem acusar ninguém.

Mas o prestígio de Sílvio Pereira e Delúbio foi outorgado pelo presidente Lula e pelo deputado Dirceu, não?

BERZOINI: Ninguém vira tesoureiro do PT porque uma pessoa indicou. Não vamos tentar dizer que fulano é homem de sicrano, não.

O senhor teme uma onda de "salve-se quem puder" no PT?

BERZOINI: Não creio que seja da tradição petista. As pessoas que estão no PT, de modo geral, são conscientes. Se o Delúbio errou, foi ao se envolver com pessoas que já eram operadoras antes. Essa área de publicidade, resguardando os profissionais que não se envolvem com isso, é vista com olhos pouco confiáveis no mundo político.

Para o PT é o fim da era dos publicitários?

BERZOINI: Se eu pudesse fazer a reforma política só de minha opinião, faria a campanha mais curta, de um mês, sem recursos tecnológicos. Voltar para a prática de o candidato sentar-se no estúdio e ter de se comunicar com a população sem mediação publicitária. O que encarece muito uma campanha hoje é a televisão, pelo prazo longo, que exige muita criatividade, com recursos técnicos caríssimos. Os showmícios também devem acabar, são outra fonte de graves distorções de campanha.

Como o PT vai fazer a campanha pela reeleição de Lula?

BERZOINI: Como dizia um político mineiro, a política é como as nuvens no céu. Não vamos tentar imaginar como será julho de 2006. É óbvio que o PT e o governo, por decorrência, enfrentam uma crise de grandes proporções. Mas existe por parte da população ainda o benefício da dúvida em relação ao presidente e ao partido. As pessoas querem esclarecimento, mas não estão prejulgando o partido nem o governo. O Lula goza do benefício da dúvida.

Numa possível campanha pela reeleição, como o PT fará sem verbas, sem publicitários?

BERZOINI: Talvez o peso do marketing e do publicitário seja relativizado. Faremos uma campanha um pouco mais modesta, gastando menos dinheiro. Mas isso não é um problema do PT, é um problema dos partidos brasileiros. Em 2002, o outro candidato (José Serra, PSDB) teve que reconhecer dívidas, está sendo processado, tem credores.

A dívida de R$59 milhões do PT, só a assumida, é a maior de todos os partidos no país, não?

BERZOINI: A dívida será equacionada. A contabilizada será paga. A não contabilizada, não.

E quais os próximos passos?

BERZOINI: Estamos preocupados com dois aspectos: constituir internamente o ambiente político de convivência, respeito às regras e diálogo, e restabelecer, entre a executiva e a militância abalada pela crise, um processo de comunicação intenso, mostrando que agimos de acordo com os princípios do PT, incentivando as investigações. E vamos, eu e Tarso Genro, conversar com todos os partidos, aliados ou não-aliados, para estabelecer relações políticas e pensar em 2006.

Haverá campanha para atrair os militantes?

BERZOINI: A idéia é fazer um processo de mobilização que pode se chamar de campanha.

(*) Especial para O GLOBO