Título: Lula critica antecessores por situação de rodovias
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 25/07/2005, O País, p. 9

Pelo segundo dia consecutivo, presidente discursa em seu berço político, o ABC paulista, sem mencionar crise

SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP). A crise política não está na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, pelo segundo dia consecutivo, Lula se reuniu com trabalhadores do ABC paulista, seu berço político, e não falou da crise. Distribuiu autógrafos, abraços, promessas e conquistou apoios. Em discurso rápido para 3.000 cegonheiros em São Bernardo do Campo, o presidente responsabilizou os governos anteriores pelas péssimas condições das estradas e fez promessas de melhoria no setor:

- Nós herdamos mais de 38 mil quilômetros de estradas praticamente intransitáveis. Eu fico me perguntando às vezes: o que era feito neste país que nem a manutenção de estradas era feita? - disse.

Promessa de terminar BR-116 e outras estradas

Lula quebrou o protocolo e convocou o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para anunciar verbas para obras nas estradas. Nascimento disse que Lula autorizou para este ano R$6,5 bilhões para a recuperação de rodovias, mas não informou quanto será efetivamente liberado para as obras. Lula reconheceu que novidades no setor demoraram:

- No começo do mês que vem nós vamos, finalmente, inaugurar definitivamente a nossa querida Fernão Dias, que está há mais de 12 anos para ser inaugurada. Finalmente, nós vamos terminar a BR-116 e outras estradas.

O ministro disse que, em 2004, sete mil quilômetros de rodovias federais foram recuperadas e a expectativa é chegar este ano a 14 mil quilômetros. A duplicação da Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, fica pronta em agosto.

- Nossa expectativa, num estudo feito pelo Banco Mundial, mantidos os investimentos que estamos fazendo, em mais três anos recuperaremos os 58 mil quilômetros da malha federal - disse Nascimento, sem lembrar que a gestão termina em 2006.

Os cegonheiros prometeram ir às ruas, se Lula precisar. Anteontem, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC anunciara o mesmo.

- Esse pessoal aqui vai estar sempre ao seu lado, Lula. Se você precisar, nós vamos às ruas para ajudar você - discursou o presidente do Sindicato Nacional dos Cegonheiros, Eliberto Alves, na celebração do Dia dos Motoristas, que se comemora hoje.

Como no início do governo, Lula quis cumprimentar povo

O líder cegonheiro, que conhece Lula desde 1979, almoçou com o presidente e contou que o achou um pouco triste:

- Ele está triste, sim. Mas comentou que acha que as coisas vão melhorar. Ele me disse que não vai encobrir corrupção, seja do partido dele ou de outro qualquer. Sei que Lula jamais se corromperia. Entendo a sua tristeza e vamos apoiá-lo em qualquer situação. Faremos o que for preciso para defender Lula.

Depois dos discursos e do almoço, Lula deixou a área reservada e quis cumprimentar os caminhoneiros, desobedecendo os conselhos de sua segurança, como fazia no início do governo. Mas não conseguiu se movimentar, por causa do cerco de populares, jornalistas e seguranças.

- Desculpem, eu não poderei abraçar vocês, como pretendia, pois alguém pode se ferir nessa confusão - disse Lula, antes de deixar o churrasco.

Segundo o secretário especial do presidente para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, não há intenção deliberada de reaproximar Lula das bases.

- Lula não alterou sua agenda em função da crise nem pretende alterar.

Na canção, corrupção

Músico assusta sindicalistas

SÃO BERNARDO DO CAMPO. Corrupção foi uma palavra evitada em todos os momentos da festa dos cegonheiros ontem, mas acabou sendo cantada por um músico que o presidente Lula tinha acabado de conhecer e deixou que usasse o microfone. Alex Sandro Carvalho Macedo, de 25 anos, causou impacto no primeiro trecho da música que diz ter composto: "Corrupção, os que governam sempre roubam seus irmãos". Mas em seguida, a música trouxe elogios ao governo.

"Caras de pau, subestimam o governo federal. Os que agiram subestimam a Polícia Federal", continuou Alex Sandro, para alívio dos sindicalistas que convidaram o presidente Lula.

Alex Sandro contou depois que votou em Lula e que gosta de seu governo, mas nunca tinha encontrado com o presidente.

- Ele olhou nos meus olhos e eu aproveitei para pedir que me deixasse mostrar minha música, que era o meu sonho. Ele não sabia o que era, nem conhecia, mas deixou que eu cantasse - contou o músico depois.

Legenda da foto: LULA, SEGUIDO por dona Marisa e cercado por seguranças, tenta cumprimentar caminhoneiros no meio da multidão, mas tumulto o impede