Título: NOVOS RUMOS DA SELIC DETERMINAM A REVISÃO DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 25/07/2005, Economia, p. 18

Se crise política não afetar economia, ativo de risco pode se tornar atraente

A manutenção da taxa básica de juros, a Selic, pelo segundo mês consecutivo em 19,75% ao ano, depois do ciclo de alta iniciado em setembro do ano passado, aumentou a percepção de que os ganhos das aplicações em renda fixa ou dos fundos DI podem, aos poucos, descer a ladeira. Isso, caso o início da queda dos juros se confirme entre agosto e setembro.

É claro que o agravamento do quadro político pode atrapalhar a lógica do mercado. A princípio, diz a regra, juros em queda favorecem o avanço da Bolsa de Valores ou mesmo ganhos em aplicações prefixadas, se a baixa da Selic for acelerada. Contudo, nem sempre as regras de mercado funcionam, e o grande desafio dos investidores é conseguir mudar o perfil da aplicação na hora certa.

O corretor de seguros Amilcar Vianna faz parte dos investidores que estão convencidos de que a queda das taxas de juros virá logo. E, trabalhando com a perspectiva de ganho menor das aplicações atreladas a juros, ele está revendo o perfil de sua aplicação. Decidiu apostar recursos na compra de ações e passou a olhar com mais atenção para os fundos de previdência.

São aplicações que combinam papéis conservadores com outros mais arriscados, com a vantagem de cobrar taxa de administração menor que os produtos financeiros concorrentes.

- Juros de 19% ao ano são insustentáveis a longo prazo e está claro que vão cair. Além disso, o preço das ações está baixo, com boas chances de recuperação e ganhos. Os fundos de previdência são outra alternativa de investimento, principalmente por ter uma taxa de administração bem mais razoável que a cobrada pelos demais fundos - explicou o corretor.

Para conservadores, melhor é continuar nos fundos DI

A princípio, nada há de incorreto na estratégia do corretor, que está adotando um perfil mais agressivo. Mas os especialistas chamam a atenção para risco de fazer mudanças neste momento. O cenário político pode começar a provocar turbulências na economia e, aqui e ali, mexer na rentabilidade dos ativos.

Para o consultor de finanças pessoais Victor Zaremba, a manutenção da Selic ou mesmo sua queda em até dois pontos percentuais não seria a senha para o investidor alterar muito o perfil de sua aplicação. Para o conservador, continua a valer a regra de manter mais da metade do capital em CDI ou fundo de renda fixa atrelado ao DI. O restante pode ser aplicado em fundos de ações e no arriscado mercado de derivativos. No caso do investidor agressivo, o consultor recomenda manter de 30% a 40% do dinheiro na renda fixa e 60% ou 70% entre o mercado de ações e derivativos.

Economista da Fundação Getúlio Vargas e autor "Sobrou dinheiro! Lições de economia doméstica", Luiz Carlos Ewald diz que o momento não é propício para o troca-troca de investimento.

- Como ninguém sabe onde a crise política vai parar, o ideal é manter tudo no CDI ou no Fundo DI. Não ser conservador nesse momento equivale a ser irresponsável. A Bolsa ainda pode cair mais e, mesmo o ingresso em um período de baixa, pode não ser recomendável. Com a crise política, as perdas podem ficar maiores. O ingresso na Bolsa só vale a pena se ela cair 10% a curto prazo, porque a perspectiva de ganho é mais garantida - disse ele.

A única ousadia indicada por Ewald para investidores propensos a correr mais riscos são os fundos cambiais:

- Se é para arriscar, indico os fundos cambiais. É que em quadro de baixa, estão perto do piso. Ou seja, não devem cair muito mais. Mas se o cenário mudar, o salto de valorização da moeda pode ser bem maior.

Na opinião do estrategista do BankBoston, o economista Odair Abate, a Bolsa de Valores mantém perspectivas muito positivas, apesar da turbulência política. Já no caso dos títulos prefixados (as LTNs), a possibilidade de ganho sobre aplicações pós-fixadas é pouco provável, opina o economista Marcelo D'Agosto, do site Fortuna.

Segundo D'Agosto, para dar resultados maiores que os pós-fixados, os títulos do Tesouro Nacional dependem de uma queda acelerada da taxa Selic e de uma diferença razoável entre as taxas pagas nas LTNs e os juros básicos, até para compensar o recolhimento do Imposto de Renda.

http://oglobo.globo.com/economia

Aplicações por perfil

PERFIL: O primeiro passo do investidor é definir seu perfil - conservador, moderado ou agressivo. Isso é importante para estabelecer seu apetite, ou não, para correr riscos.

CONSERVADOR: Nesse caso, o investidor mira mesmo é a segurança. Daí porque 100% dos recursos ou grande parte permanecem na renda fixa ou fundos DI. Um parcela ínfima pode ir para mercados de risco, como a Bolsa ou ainda os fundos cambiais.

MODERADO: Sua disposição para correr risco é um pouco maior. Seus recursos são alocados em fundos de investimento com risco mínimo ou moderado, como os de renda fixa e fundos balanceados.

AGRESSIVO: É investidor de sangue-frio. Pode aplicar a totalidade dos recursos na renda variável, de olho nos ganhos maiores a médio e longo prazos. Esse investidor sabe lidar com os riscos, para conseguir rentabilidade maior.

INVESTINDO EM CDI: Pode ser pré ou pós-fixado. No prefixado, o investidor sabe o rendimento que terá; no pós, só no vencimento. Mas as taxas de juros têm como referência o CDI .

INCLUI QUADRO: COMPARE AS RENTABILIDADES