Título: PF QUER ANALISAR DOCUMENTOS DE MARCOS VALÉRIO
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 25/07/2005, O País, p. 5

Devassa, no entanto, ainda depende de autorização do STF

BRASÍLIA. O diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, deverá destacar uma força-tarefa com 20 delegados, peritos, agentes e escrivães para analisar, em duas semanas, todos os documentos das empresas do empresário Marcos Valério no Banco Rural, apreendidos em Belo Horizonte no último dia 15. A ordem é identificar todos os beneficiários de repasses financeiros da SMP&B e da DNA Propaganda, agências usadas por Valério para fazer pagamentos a parlamentares a pedido do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Os policiais só aguardam a liberação dos papéis pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim.

A operação foi solicitada pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Em parecer sobre o caso, encaminhado na tarde de sexta-feira ao STF, o procurador pede que a PF inicie e conclua a análise em 15 dias a partir do recebimento dos documentos. Segundo um de seus assessores, Jobim deverá apreciar o pedido e remeter os papéis à PF ainda hoje. Entre eles, estão cópias de faxes com nomes de sacadores e de beneficiários dos saques de contas de Valério.

As ordens de pagamentos emitidas em Belo Horizonte para destinatários em Brasília vão de R$50 mil a R$200 mil. Em pelo menos um dos faxes, o autor das remessas ordena que o dinheiro seja dividido por quatro pessoas, o que poderia, segundo a PF, caracterizar o mensalão denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Roberto Jefferson estaria entre beneficiários

Investigadores do caso, com acesso aos papéis apreendidos, identificaram o nome de vários parlamentares e assessores parlamentares entre os destinatários do dinheiro de Valério. Entre eles estaria o próprio Roberto Jefferson, o primeiro a denunciar publicamente a existência do mensalão. Esta prova, se existe, não foi tornada pública ainda pela CPI dos Correios.

A situação de Valério na CPI está cada vez mais complicada. Levantamento feito por auxiliares do senador Álvaro Dias (PSDB-PA) confirmam que a DNA Propaganda e SMP & B remeteram cerca de R$1,2 milhão para a conta Lonton, no JP Morgan Bank de Nova York, entre 1998 e 2000. A conta, em nome do doleiro Haroldo Bicalho, era administrada pela Beacon Hill, apontada pela CPI do Banestado e por autoridades do Ministério Público dos Estados Unidos como uma das principais bases do esquema internacional de lavagem de dinheiro.

Álvaro Dias apontou a existência das remessas de dinheiro de Valério para o exterior por meios clandestinos no início do mês. Em depoimento à CPI dos Correios, Valério alegou que eram transferências inexpressivas, destinadas ao pagamento de fornecedores internacionais de suas empresas.

- O levantamento mostra que as remessas não eram tão pequenas assim - disse Dias.

O senador disse que, com base nesses documentos, pedirá o indiciamento de Valério por crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem tributária. Segundo ele, o empresário infringiu as normais legais do país ao remeter dinheiro para o exterior por meio de um doleiro.