Título: Discussão no PT sobre impeachment surpreende oposição e até petistas
Autor: Adriana Vasconcelos e Diana Fernandes
Fonte: O Globo, 25/07/2005, O País, p. 4

Para PSDB e PFL, Campo Majoritário deve ter informações que atingem Lula

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Provocou surpresa na oposição e mesmo entre petistas o debate aberto pelo Campo Majoritário do PT, que reúne as correntes alinhadas com o governo, para estabelecer uma estratégia para enfrentar um eventual pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parlamentares do PSDB e do PFL consideram que o gesto do Campo Majoritário levanta suspeitas de que petistas tenham informações de que as investigações da CPI dos Correios poderão efetivamente atingir Lula.

- Ninguém da oposição pediu o "impixamento" do presidente Lula. Se eles (petistas) começam a falar disso é porque conhecem mais a verdade do que nós. Ninguém do PSDB pediu ou fez especulações sobre isso. Mas se o presidente tem culpa no cartório, terá de pagar - disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), integrante da CPI dos Correios.

Agripino Maia: "Nós não vamos propor nada"

O risco de impeachment é tema de reservadas conversas palacianas e a preocupação do governo reflete-se em ações e discursos do presidente. Mas é a primeira vez que petistas admitem publicamente que estão discutindo o problema. O líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), afirmou que seu partido não vai provocar uma ação por crime de responsabilidade contra o presidente:

- Nós não vamos propor nada. Só diante de denúncias irrefutáveis em cima do presidente Lula. Os petistas estão tratando do assunto porque sabem que este é o clima do país, é a conversa escancarada em todas as rodas de populares - afirmou Agripino, acrescentando: - Por que Lula vai a São Bernardo? Para mostrar o apoio que tem, porque está preocupado.

O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), diz que o PT está se antecipando às próprias investigações:

- Eles (petistas) estão montando uma estratégia que está na frente do que apuramos até agora, embora fique cada dia mais claro que o presidente sabia de tudo que ocorria. Mas eles têm mais informações que nós.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) não conseguiu esconder a surpresa com o debate interno, mas tentou justificar a iniciativa do Campo Majoritário argumentando que algumas pessoas da oposição estariam investindo, desde o início da crise, na abertura de um processo de impeachment.

- Mas neste momento não é interessante essa pauta - admitiu Pimenta.

O próprio presidente Lula tem trabalhado com essa possibilidade. A reforma ministerial, que amarrou o apoio de parcela considerável do PMDB, dando ao partido o poderoso Ministério da Saúde, foi uma necessidade para enfrentar um eventual processo político no Congresso. Dar ao PP de Severino Cavalcanti (PE) outro ministério forte, o das Cidades, cumpriu o mesmo objetivo. Nos discursos, Lula também se antecipa ao fazer defesas veementes do seu patrimônio político e ético.

O Campo Majoritário, corrente petista da qual Lula faz parte, elaborou um documento interno em que expressa a preocupação com uma tentativa de impeachment movida por setores da oposição. O documento deve ser apresentado durante o encontro do diretório nacional, nos dias 6 e 7 de agosto.

Berzoini diz que debate é prematuro

O documento estabelece, de acordo com os dirigentes petistas, iniciativas de curto prazo para uma mobilização dos líderes do partido e de militantes na defesa do governo Lula. O secretário-geral do PT, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), afirmou que há preocupação com o movimento de impeachment.

- Existe uma tentativa de aquecer o tema de impeachment. Mas é prematura e artificial, porque não se leva em conta a apuração dos fatos. Isso tem ares de golpe, pois não existe nada que vincule esse processo de apuração a uma possibilidade de ruptura política.

Legenda da foto: BERZOINI: secretário-geral do PT diz que não há vínculo entre apuração e possibilidade de ruptura política