Título: Na mira: Zé Dirceu
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/07/2005, O Globo, p. 2

Ministros e dirigentes petistas querem o deputado José Dirceu (PT-SP) fora do partido. O ex-todo-poderoso José Dirceu já recebeu alguns recados de que deveria seguir o mesmo caminho de Sílvio Pereira e pedir sua desfiliação. Livrar-se de Dirceu é uma das peças da estratégia montada para blindar o mandato e a candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-chefe da Casa Civil não recebeu bem a proposta e seus assessores fazem o possível para vender a imagem de que está tudo bem entre ele e o presidente Lula. Mas a verdade é que o presidente se sente traído pelo ex-ministro. O presidente, segundo assessores, na última conversa com Dirceu, pediu explicações sobre a forma como foi montada a maioria governista no Congresso e não obteve resposta.

Os fatos conhecidos até agora, de acordo com um ministro, revelam que, à sombra do governo, havia um esquema de financiamento político e eleitoral. E que ele foi montado por Dirceu e obedecia a uma concepção, a de dominar a máquina estatal, a base aliada e o Congresso. O presidente Lula, e seus principais auxiliares, não têm mais dúvidas de que esse esquema poderia ser resumido pelo slogan: José Dirceu 2010.

Isso explica muita coisa. Os ataques de determinados aliados ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a desestabilização permanente do trabalho do ex-ministro da Coordenação Política Aldo Rebelo. Em 2004, aliados do presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ), sugeriram que ele organizasse uma manifestação política de apoio a Palocci, que estava sob fogo cerrado por causa da taxa de juros. Jefferson reagiu à sugestão perguntando: "O que o José Dirceu acha disso?" Existe também uma convicção, no governo, de que a dinheirama de Marcos Valério lubrificou a campanha para tentar aprovar a emenda que permitiria a reeleição do ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP).

As pressões sobre Dirceu vão se intensificar, mas ele está determinado a se preservar e diz que está sob ataque de maneira injusta. Sua reação é a de considerar que seu afastamento não seria interpretado politicamente. Ele acredita que esta atitude mereceria um juízo ético e equivaleria a uma confissão de culpa. Ao partido ele tem dito que desconhecia totalmente a operação financeira entre Delúbio Soares e Marcos Valério. Mas é fato que Delúbio, Sílvio e Marcelo Sereno eram os seus homens na executiva do PT.