Título: VALORIZAÇÃO DO REAL ELEVA GASTOS COM VIAGENS
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 26/07/2005, Economia, p. 19

Julho teve déficit de US$220 milhões, segundo BC. Remessas subiram 70% no 1º semestre

BRASÍLIA. A valorização do real frente ao dólar já se refletiu no aumento expressivo de gastos com viagens internacionais e remessas de lucros e dividendos de empresas multinacionais no Brasil. No primeiro semestre de 2005, as viagens registraram um déficit de US$220 milhões, contra um superávit de US$370 milhões no mesmo período do ano passado. Aproveitando o câmbio valorizado, que permite trocar reais por mais dólares, as remessas de lucros saltaram 70% de janeiro a junho deste ano, passando de US$3,608 bilhões em 2004 para US$6,117 bilhões. Os dados fazem parte das contas externas, cujos resultados de junho foram divulgados ontem pelo Banco Central (BC).

¿ As receitas com viagens de estrangeiros ao Brasil cresceram 15% no semestre, mas as despesas no exterior subiram 66%, com o aumento de renda e a valorização do real. Acho que o item viagens vai ficar negativo no ano ¿ disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Segundo ele, o mês de julho já está com déficit de US$142 milhões na conta de viagens. Sobre as remessas, o economista avaliou que as empresas devem ter concluído os envios antecipados de lucros. Assim indicam as remessas em julho, que estão em US$441 milhões, abaixo da média mensal de US$1 bilhão no primeiro semestre. Lopes explicou que as remessas cresceram com os bons lucros no ano passado e o maior estoque de investimento direto estrangeiro, que se valorizou com o real mais forte. O estoque subiu em 2004 de US$132,799 bilhões para US$161,238 bilhões.

¿ Os números das contas externas continuam positivos em julho. As transações correntes devem fechar com superávit de US$1,2 bilhão e os investimentos diretos, em US$1,5 bilhão ¿ disse Lopes, que afasta a idéia de contágio da crise política sobre as contas externas.

O que garante o forte saldo nas transações correntes (comércio exterior, viagens internacionais, juros da dívida externa e remessa de lucros) é a balança comercial. O saldo cresceu 31% no primeiro semestre, passando de US$15,003 bilhões para US$19,667 bilhões. Dessa maneira, o superávit corrente aumentou 19,73% de janeiro a junho de 2005 e atingiu US$5,284 bilhões, o maior resultado na série histórica do BC, que começou em 1947. Apesar do crescimento, o saldo mostra desaceleração por causa do aumento das despesas com serviços (viagens, juros, remessas de lucros).

O saldo das transações caiu 38% em junho deste ano frente ao mesmo mês de 2004. O superávit comercial aumentou US$231 milhões, enquanto a despesa com serviços subiu US$999 milhões. No acumulado de 12 meses, ainda há superávit de US$12,609 bilhões. Mas o BC admite que esse saldo deve recuar.

Já os investimentos estrangeiros diretos praticamente dobraram no primeiro semestre deste ano em relação a 2004, passando de US$4,045 bilhões para US$8,566 bilhões. Mas o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) afirma que o fluxo de investimento direto vem oscilando devido ao baixo crescimento da economia brasileira ¿ previsto em 3% este ano, contra média de 6% dos países emergentes ¿ e à crise política.