Título: ABI-ACKEL PODE PERDER CARGO DE RELATOR
Autor: Rodrigo Lopes
Fonte: O Globo, 26/07/2005, O País, p. 4

Deputado recebeu R$150 mil para eleição de 1998 por meio da SMP&B

BRASÍLIA. A permanência do deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) no cargo de relator da CPI do Mensalão tornou-se mais difícil depois da descoberta de que ele recebeu R$150 mil, na campanha de 1998, por intermédio da SMP&B, agência de Marcos Valério. Ontem, Abi-Ackel atribuiu à coordenação da campanha do ex-governador e atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) o recebimento do dinheiro.

Em nota, o deputado afirma que a contribuição foi feita por ordem de Cláudio Mourão, responsável pelas finanças de Azeredo, e que à ocasião a agência de publicidade não estava sob suspeita. ¿Abi-Ackel afirma categoricamente que jamais conheceu nem conhece o senhor Marcos Valério¿, diz a nota, assinada pelo deputado e por Mourão.

Integrante da CPI do Mensalão, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) recomendou o afastamento de Abi-Ackel:

¿ Numa situação como esta, o melhor é a própria pessoa tomar a iniciativa. Estamos apurando pagamentos a parlamentares. Estivesse eu no lugar dele, eu me declararia impedido.

O presidente do CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), preferiu não comentar o assunto. Para o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o relator está impedido de ficar no cargo:

¿ É um fato que me entristece, mas acho que mesmo que esses recursos não tenham nada a ver com o mensalão, ele deveria se declarar impedido.

José Dirceu é um dos padrinhos de Abi-Ackel

A escolha de Abi-Ackel teve influência do ex-ministro José Dirceu, um dos alvos da CPI do Mensalão. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu o deputado pelo saber jurídico, segundo ele essencial em CPIs para evitar injustiças. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse que o dinheiro recebido por Abi-Ackel não tem relação com o mensalão. Mas admitiu que não é um fato positivo.

¿ Esse é um caso de caixa dois, que se resolve com reforma política. O que investigamos é um ¿caixa três¿. Esse só se resolve com a reforma do caráter do pessoal. Tenho convicção de que esse dinheiro não comprou a consciência do deputado

Além de Dirceu, petistas como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) e o deputado José Mentor (SP) estão na mira das investigações. Para evitar que toda a carga recaia sobre o PT, a tendência é abrir as contas de Valério em Minas anteriores à eleição de 2000 (a CPI dos Correios investiga o período de 2000 a 2005).