Título: PF INICIA DEVASSA NO VALERIODUTO
Autor: Rodrigo Rangel/Gerson Camarotti/Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 26/07/2005, O País, p. 5

Objetivo é identificar empresas e pessoas que abasteciam contas de Valério

BRASÍLIA. A Polícia Federal deve iniciar hoje a devassa nos documentos bancários da SMP&B e da DNA, duas agências do empresário Marcos Valério, apontado como um dos operadores da suposta mesada que a cúpula do PT pagaria a parlamentares da base aliada. A partir desses papéis, a polícia tentará identificar todas as pessoas e empresas que abasteciam as contas de Valério ¿ os doadores do caixa dois petista. Os documentos permitirão também a identificação de todos os beneficiários dos repasses suspeitos.

Os documentos, que estão em poder do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, deverão ser enviados hoje à PF. Em parecer apresentado a Jobim sexta-feira passada, o procurador-geral da República, Antonio Fernando, fixou um prazo de 15 dias, a partir do recebimento do material, para que a PF conclua a investigação. O diretor da PF, Paulo Lacerda, já destacou uma força-tarefa composta por 20 policiais para cumprir a recomendação num prazo inferior a 15 dias.

Jobim deverá enviar à PF os papéis apreendidos na auditoria do Banco Rural, em Belo Horizonte, no último dia 15 e também os extratos bancários da SMP&B e da DNA Propaganda. São os documentos da quebra de sigilo bancário de Valério solicitada pela PF logo na fase inicial do inquérito do mensalão.

A polícia tentará descobrir se as empresas que fizeram depósitos nas contas de Valério receberam, em contrapartida, algum tipo de serviço das agências do empresário. A suspeita é que o chamado valerioduto estaria assentado em bases similares ao do Esquema PC, do empresário Paulo César Farias, no início do governo Collor.

A DNA divulgou nota ontem, na qual afirma que jamais emitiu qualquer nota fiscal sobre serviços não realizados. Segundo a agência, todos os serviços prestados para os clientes Telemig Celular, Amazônia Celular, Fiat Automóveis e a Construtora Odebrecht ¿existiram de fato e são, inclusive, de conhecimento público¿. A polícia e o Ministério Público encontraram notas da DNA emitidas em nome dessas empresas entre os documentos apreendidos na casa do ex-policial Marco Túlio Prata, que seriam incinerados. Na nota a DNA contesta essas informações: ¿Afirmamos categoricamente que pelo caixa da DNA não passou um centavo sequer para esta finalidade. Nem destes e nem de nenhum outro cliente da agência¿.

Também em nota, o banco ABN Amro informou que não fez depósitos nas contas de Marcos Valério ou de qualquer uma de suas empresas.