Título: BB investiga agências onde Valério manteve conta
Autor: Rodrigo Rangel/Gerson Camarotti/Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 26/07/2005, O País, p. 5

Segundo CPI, publicitário fez nos últimos cinco anos pelo menos 48 empréstimos bancários que somam R$288 milhões

BRASÍLIA. O Banco do Brasil está fazendo uma checagem geral nas agências onde o empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza manteve contas ao longo dos últimos anos. O objetivo é averiguar se foram adotados corretamente os procedimentos previstos na lei de combate à lavagem de dinheiro, que obriga as instituições financeiras a comunicarem aos órgãos de fiscalização movimentações suspeitas.

Entre os alvos do levantamento estão agências de Belo Horizonte que tiveram como gerente o irmão de Valério, Marcos Vinício Fernandes de Souza. Investigadores que atuam no caso Marcos Valério têm informações de que o empresário mantinha suas contas sempre nas agências gerenciadas pelo irmão. A medida seria uma forma de evitar que transações suspeitas fossem comunicadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O BB também está fazendo uma sindicância na diretoria de Marketing, chefiada até a semana retrasada pelo petista Henrique Pizzolato, que pediu aposentadoria antecipada após a descoberta de que recebera dinheiro sacado da agência DNA.

Levantamento preliminar feito pelos técnicos da CPI mostra que Marcos Valério fez nos últimos cinco anos pelo menos 48 empréstimos bancários em diversas instituições que somam cerca de R$288 milhões. A maior parte das operações foi feita, de acordo com a análise de integrantes da comissão, para saldar dívidas já contraídas pelo publicitário. As datas dos créditos dos empréstimos na conta de Valério no Rural coincidem com os valores dos pagamentos das dívidas anteriores. O resultado das manobras, entretanto, é um débito de aproximadamente R$39 milhões, quantia igual à dívida que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares reconhece ter com o publicitário.

Frente Nacional dos Prefeitos recebeu R$90.550

As operações analisadas pela CPI fazem parte do material obtido pela comissão com a quebra do sigilo bancário do publicitário e de suas empresas com conta no Banco Rural. Ontem, os integrantes da CPI descobriram também uma empresa que teria sido a terceira maior responsável por saques nas contas de Valério, a Garanhuns Empreendimentos, que recebeu R$2,47 milhões.

Também foi encontrada uma transferência eletrônica para a Frente Nacional dos Prefeitos no valor de R$90.550, no dia 7 de janeiro de 2005. O documento indica o tucano Luiz Paulo Velloso Lucas, ex-prefeito de Vitória, como responsável pela entidade. Velloso Lucas não foi encontrado ontem.

A CPI dos Correios deverá receber do STF hoje à tarde ou amanhã os documentos apreendidos na agência do Banco Rural de Belo Horizonte pela Polícia Federal, que identificariam os depositantes e sacadores das contas das empresas de Marcos Valério. Os documentos, que vão passar por perícia da Polícia Federal, foram classificados ontem pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), como ¿pólvora pura¿.

¿ Esses documentos identificam parlamentares que sacaram dinheiro. Esse material é bombástico, é pólvora pura.