Título: Documentos complicam mais situação de Janene
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 26/07/2005, O País, p. 9

Empresa 2S, de Valério, repassou R$2,9 milhões para a corretora Bônus-Banval, onde trabalhava filha do líder do PP

BRASÍLIA. Sob suspeita de ter sido usada para lavagem do dinheiro que saiu das contas do publicitário Marcos Valério, a corretora de valores paulista Bônus-Banval está sendo investigada pela CPI dos Correios. Ontem, foram encontradas por integrantes da comissão transferências no valor de R$2,940 milhões da 2S Participações, uma das empresas do publicitário acusado de ser o operador do esquema de pagamentos a parlamentares da base aliada, entre abril e maio de 2004 para a corretora, onde trabalhava, na época, a filha do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), Michele Janene.

A descoberta deve complicar ainda mais a vida do deputado, que já faz parte da lista dos parlamentares que receberam diretamente ou tiveram assessores seus na lista dos que foram beneficiários do dinheiro de Valério. Além dos R$2,9 milhões repassados à corretora paulista, que os integrantes da CPI suspeitam que teriam sido enviados a Janene, seu assessor João Cláudio de Carvalho Genu sacou em dinheiro R$1,15 milhão da conta da SMP&B no Banco Rural.

A CPI dos Correios investiga ainda outros dois saques que teriam sido destinados ao deputado: o de R$255 mil na conta da DNA feito no dia 10 de setembro de 2004 por Benoni Nascimento Moura, que trabalha na Bônus-Banval. Outra ligação com a corretora seria um saque no valor de R$50 mil feito por Luiz Carlos Manzano, identificado pelos técnicos da comissão como um funcionário da corretora. Somadas, as transferências suspeitas chegam a R$4,355 milhões. O dinheiro, acreditam os integrantes da comissão, pode ter sido destinado a clientes da corretora, que o receberiam depois como resultado de um investimento.

De acordo com a Bônus-Banval, o funcionário que trabalha no seu departamento de contabilidade chama-se Luiz Carlos Masano e não Manzano. Ele também teria outro CPF, diferente do identificado pela CPI. Na casa de Luiz Carlos Manzano, no município de Cândido Mota (SP), sua mulher informou que ele trabalha como pintor. Além de Janene, outros seis parlamentares estão sob investigação na CPI por terem ligação direta ou indireta com saques ou transferências das contas de Valério.

A Bônus-Banval negou ter relações comerciais com as empresas de Valério e com o empresário. ¿A Bônus-Banval não reconhece nenhum depósito em nome da corretora feito pela empresa 2S Participações¿, informa a nota enviada ao GLOBO. A corretora negou ainda ter ligação com Janene ou com qualquer outro parlamentar e justificou o fato da filha do deputado trabalhar na empresa com a sua política de estágio.

Janene disse, por sua assessoria, que desconhece o assunto e que as transferências são um problema da corretora com a empresa de Valério.