Título: Lula a assessores: `Não vou para o matadouro¿
Autor: Gerson Camarotti e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 26/07/2005, O País, p. 10

Presidente tem admitido nos bastidores que problemas do PT, `à beira da bancarrota¿, atingiram seu governo

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto mudou de estratégia diante da crise política e a ordem agora é adotar um discurso mais agressivo. Ao concluir que há na oposição quem deseja deixá-lo refém e enfraquecido, Lula decidiu reagir. Considera que alguns integrantes da oposição ensaiam tentativa de iniciar um processo de impeachment. Ao mesmo tempo, o presidente reconhece que os problemas do PT, ¿à beira de uma bancarrota¿, atingiram seu governo.

¿ Eu não vou para o matadouro! ¿ disse Lula numa recente reunião palaciana, quando seu seleto grupo de conselheiros avaliou que a crise política vai se arrastar, no mínimo, por mais dois ou três meses.

Dívida do partido pode chegar a R$160 milhões

Para o presidente, o PT está numa encruzilhada e vai demorar muito tempo para se recuperar da difícil situação em que se encontra. Nas análises internas a conclusão é de que a crise é grave e que o PT foi deixado pelos ex-dirigentes à beira de uma bancarrota financeira e moral. O partido está com uma dívida que, segundo especulações, pode chegar a R$160 milhões, entre débitos formais e informais.

A decisão do presidente de contra-atacar e ao mesmo tempo responsabilizar o PT foi tomada nas recentes reuniões com conselheiros mais próximos: os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Jaques Wagner (Coordenação Política), Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Roussef (Casa Civil).

A esses interlocutores o presidente tem dito, segundo a versão do governo, que foi traído pelos dirigentes do PT, acusados de instituir um caixa dois no partido. Lula sustenta ainda que nada sabia sobre a movimentação financeira não contabilizada e que só ouviu falar de Marcos Valério quando a denúncia do mensalão foi tornada pública pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). O sentimento de Lula, dizem os auxiliares, é de muita mágoa e raiva com a desconcertante crise em que o partido está mergulhado.

Auxiliares de Lula pedem que pefelistas baixem o tom

Os auxiliares mais próximos de Lula têm levado recados à oposição, especialmente ao PFL, para que o partido baixe o tom dos ataques. No fim de semana, um ministro petista conversou com um cacique pefelista, argumentando que a situação política por si só é muito grave. E que é preciso cuidado e responsabilidade de todos para não criar uma crise institucional.

Se o PFL continuar nesta posição ofensiva, o país vai pegar fogo, o Brasil pode virar uma Bolívia, disse um ministro. A instável situação política vivida recentemente pela Bolívia já foi usada pelo menos duas vezes em reuniões no Planalto como exemplo de comparação. Lula diz que vai lutar até o fim para terminar o governo e não vai aceitar qualquer movimento no sentido de encurtar seu mandato, como já chegou a ser discutido entre setores da oposição no Congresso.

Ontem, em conversas no Planalto, Lula mostrou-se indignado com o noticiário de que Marcos Valério está chantageando o PT e o governo.