Título: TENSÃO SOBE NO MERCADO
Autor: Vagner Ricardo e Paula Dias
Fonte: O Globo, 26/07/2005, Economia, p. 19

Bolsa cai 3,39%, a terceira maior queda do ano. Dólar sobe 2,67%, para R$2,462

Oagravamento da crise política bateu forte ontem no mercado financeiro. Num dia de nervosismo, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 3,39%, a maior queda desde 14 de abril (4,15%) e a terceira maior do ano. Já o dólar teve a mais alta valorização em um único dia em quase 13 meses (desde 31 de maio de 2004) e fechou em alta de 2,67%, a R$2,462. No mercado externo, o risco-Brasil, que mede a confiança do investidor estrangeiro no país, subiu 1,20%, para 422 pontos centesimais, empatando com a taxa da Argentina.

Os investidores estavam pessimistas principalmente em relação ao depoimento de hoje na CPI dos Correios da mulher do publicitário Marcos Valério, Renilda de Souza, e ao rebaixamento da recomendação dos títulos da dívida brasileira por parte da corretora americana Merrill Lynch (de ¿acima da média do mercado¿ para ¿na média do mercado¿, na última sexta-feira), influenciada pela crise política. Para o mercado, como muitos investidores seguem orientações de instituições desse porte, aumentou o risco de fuga dos estrangeiros da Bovespa e dos títulos brasileiros.

Ontem o ¿Financial Times¿ (¿FT¿) voltou a comentar o risco da crise política para a economia brasileira. Em editorial, o jornal britânico disse que o presidente Lula precisa agir rapidamente para resolver o escândalo de corrupção, ¿o mais sério desde o impeachment de Fernando Collor¿. Mas o ¿FT¿ também ressalta que dificilmente Lula será forçado, como Collor, a deixar o cargo.

O volume financeiro na Bolsa foi de R$1,8 bilhão, acima da média diária de R$1,2 bilhão, o que, para analistas, é preocupante. Isso pode significar a migração da Bolsa para mercados mais conservadores, como renda fixa, ou mesmo a saída do país de investidores estrangeiros.

¿ Os estrangeiros, que não estavam dando atenção à crise política, agora estão muito preocupados, paralisando um movimento de compra forte de ações de semanas anteriores ¿ disse Alexandre Carneiro, analista da Adinvest Consultoria e Administração de Investimentos.

Depois do resultado de ontem, há quem já acredite em uma temporada de forte queda da Bolsa a curto prazo, que poderia retroceder para 23 mil pontos. Ontem, o fechamento foi aos 24.530 pontos.

Temor é que Lula seja atingido

A alta de ontem do dólar foi a quinta consecutiva. No período, a moeda acumula valorização de 5,3%. O avanço da moeda deve-se, segundo operadores de mesas de câmbio, ao chamado stop loss, quando as instituições se desfazem de suas posições para cumprir limites de exposição ao risco.

Em meio a tanto nervosismo, as notícias do cenário econômico interno até foram monitoradas, mas tiveram pouca ou nenhuma influência nos negócios. Foi o caso da queda do superávit comercial, que ficou em US$343 milhões na quarta semana de julho, e do superávit em conta corrente.

¿ O que sentimos é que o mercado está acordando para o risco de a chamada blindagem do presidente estar enfraquecida ¿ disse Luiz Antônio Abdo, da corretora Pioneer.

O maior temor é que, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, seja atingido pelas denúncias.

As projeções de juros também subiram na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). No contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em abril de 2006, a taxa foi de 18,56% para 18,74% ao ano; e no de janeiro de 2007, de 17,85% para 18,12% anuais.