Título: PAIS DE JEAN PEDEM AJUDA A LULA
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 26/07/2005, O Mundo, p. 25

Pai diz que aceita `indenização doída¿ e quer liberação rápida do corpo

GONZAGA (MG). O pedreiro aposentado Matosinhos Otoni da Silva, de 66 anos, pai de Jean Charles de Menezes, disse ontem ser favorável a uma ação de indenização contra o governo inglês. Matosinhos afirmou que ele e a mulher, Maria, ainda não haviam pensado no assunto, mas concordam com a decisão anunciada pelos sobrinhos que moram em Londres.

¿ Não trocaria meu filho por dinheiro algum. Queria meu filho vivo, em casa. É uma indenização doída, mas acho que é um direito que nós temos. Se meu filho fosse bagunceiro, se fosse terrorista, mas ele era inocente. Era uma pessoa que só queria ganhar o pão de cada dia. Então acho justo entrar com um processo.

Ele afirmou ainda que a família está angustiada com a demora para a liberação do corpo. Matosinhos e a mulher querem que o filho seja enterrado no cemitério de Gonzaga, cidade a cerca de cem quilômetros de Governador Valadares.

¿ Pela nossa vontade, nós o enterraríamos amanhã. Estamos sofrendo muito. Desde que soubemos da morte dele, não temos mais sossego. Minha mulher está passando mal de tão traumatizada. Era um menino muito querido, que gostava muito de nós. Quero pedir a ajuda de todos, inclusive do presidente Lula, para que o corpo possa ser trazido logo para o Brasil. Enquanto a situação não é resolvida, não sossegamos.

O pai voltou a criticar a ação da polícia londrina.

¿ Foi uma ação totalmente injusta. Se eles suspeitassem de que ele era um terrorista, deviam detê-lo. Eles iriam investigar, se fosse um terrorista qualquer, ele seria punido. Mas atirar nele à toa é horrível. Não há quem possa concordar com isso.

Centenas saem às ruas de Gonzaga em protesto

Apesar da dor, Matosinhos disse não alimentar qualquer sentimento de vingança em relação ao policial que atirou em seu filho:

¿ Só desejo a punição dele. A Justiça saberá o que fazer com ele.

Ontem à tarde, cerca de 200 moradores de Gonzaga participaram de uma manifestação contra a morte de Jean. Eles caminharam em silêncio por ruas da cidade, levando cartazes e faixas com frases de protesto e solidariedade à família. Numa das faixas estava escrito: ¿Se vocês não quiseram manter Jean vivo aí na Inglaterra, por que não devolvê-lo urgentemente para nós que o amamos?¿. Na fachada da prefeitura, foi estendida uma faixa negra em sinal de luto. O prefeito de Gonzaga, Júlio Maria de Sousa, disse que pretende dar o nome de Jean a um logradouro da cidade.

Ontem, o embaixador do Reino Unido em Brasília, Peter Collecott, enviou carta aos pais da vítima por intermédio do governo de Minas Gerais. Na carta, ele manifesta seus pêsames e diz que o governo e o povo britânico estão solidários à família. Collecot classifica a morte de Jean de ¿tragédia lamentável que, infelizmente, nossas palavras jamais poderão remediar¿. O diplomata diz ainda que está em contato com a Embaixada do Brasil em Londres, para garantir que a repatriação do corpo de seja encaminhada da ¿melhor maneira possível¿.