Título: DA TRANQÜILIDADE AO CHORO
Autor: Adriana Vasconcelos e Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 27/07/2005, O País, p. 3

Renilda vai às lágrimas e deixa CPI com olhos inchados

BRASÍLIA. Deprimida e acompanhada por um médico, Renilda de Souza chegou ao Congresso aparentando tranqüilidade, mas não resistiu muito. Após oito horas de depoimento, deixou a sala com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Diante de perguntas mais ríspidas e apelos emocionais de parlamentares para que revelasse detalhes sobre as operações irregulares do marido Marcos Valério, ela desabou. Chorou cinco vezes. Preocupado com o estado emocional da depoente, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), tentava consolá-la. Antes que todos os inscritos falassem, encerrou a sessão por volta das 20h.

Renilda usava casaquinho pérola com detalhes de fiapos, calça preta, brinco de ouro com brilhantes, correntinha com medalha de santo, unhas em tom rosa e maquiagem leve. Destoando de depoimentos anteriores, em que a maioria dos parlamentares fez perguntas agressivas, os primeiros inquiridores foram cautelosos. Os apelos para que revelasse o que sabia se repetiram. E o controle emocional de Renilda durou apenas duas horas e meia. Ao responder ao senador César Borges (PFL-BA), que perguntava se ela não se sentia injustiçada pelo fato de estar ali exposta, e se não tinha cobrado explicações do marido, Renilda falou de seu estado emocional nas últimas semanas, começando a chorar:

- Eu estava em depressão, não saía do quarto nem da frente da TV. Eu achava que não tinha o direito de ficar perguntando demais - disse.

O presidente da CPI interrompeu a sessão pela primeira vez. A sessão voltou a ser paralisada quando o deputado Alberto Fraga (PFL-DF) falou em tom ríspido com Renilda, que alegava já ter respondido sobre envio de remessas ao exterior anteriormente e se recusava a repetir o que já havia dito. Ele insistiu e ela reclamou que estava cansada e que as perguntas eram repetitivas.

- A senhora quer olhar para mim, por favor! - disse Fraga.

Renilda respondeu e o deputado afirmou que ela já estava se mostrando indócil. Foi a gota d'água e ela começou a chorar. A sessão foi interrompida para que Renilda pudesse se recompor. Na volta, Fraga retomou a palavra e, negando que tenha sido rude, defendeu o rigor:

- Vou falar de novo como policial: prefiro esse cansaço mental do que a tortura - disse.

O depoimento de Renilda Santiago foi encerrado depois que ela chorou pela quinta vez. O deputado Julio Redeck (PSDB-RS) apelou para questões familiares e acabou numa situação constrangedora.

- Sua mãe deve estar sofrendo muito, rezando pela senhora - tentou Redeck.

- Não está, não. Ela tem Mal de Alzheimer.

O deputado não desistiu.

- A senhora usou dinheiro que deveria ser da população. Como tem coragem de olhar na cara dos próprios filhos? - insistiu.

Renilda começou a chorar de novo e a sessão foi encerrada.