Título: FH: é preciso investigar, mas sem perder o foco
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 27/07/2005, O País, p. 11

'O que aconteceu no passado, no meu governo, é coisa da História', diz ex-presidente, ao comentar denúncia contra tucano

SÃO PAULO. Sob impacto da denúncia de que o empresário Marcos Valério operou também na campanha à reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas, em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique disse ontem que "o Brasil precisa ser passado a limpo" e pediu que o assunto seja apurado, mas "sem perder o foco".

- Queremos apuração e não confusão. Precisamos passar o Brasil a limpo e temos que investigar tudo, mas sem perder o foco de que a crise é hoje. O que aconteceu no passado, no meu governo, é coisa da História - disse ele, em São Paulo, onde participou de um seminário.

Ex-presidente diz que não falou em impeachment

Sobre as denúncias envolvendo o governo Lula com a corrupção, Fernando Henrique disse que em momento algum sugeriu o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- Falar em impeachment é inviável e precipitado. Não estamos aqui para malhar ninguém, mas para apurar os fatos - disse Fernando Henrique, que voltou a negar que pretenda ser candidato a presidente no ano que vem. Segundo ele, o PSDB não se fortalece com o enfraquecimento de Lula.

O ex-presidente disse ainda que nem todos os partidos usam caixa dois.

- Precisamos separar o joio do trigo - disse.

Sobre a intenção de se investigar na CPI do Mensalão as supostas denúncias de caixa dois desde 1995, o ex-presidente disse que não tem o que temer:

- Recebo isso com muita tranqüilidade, mas, em primeiro lugar, os petistas estão fazendo isso para mudar o foco, que não é este. O foco é o que está acontecendo agora. Em segundo lugar, creio que tem que investigar também. Quero também saber o que aconteceu lá atrás, para o meu interesse, mas isso é História. Nós não estamos vivendo de História e sim de futuro.

Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que preferia não entrar em detalhes sobre o fato de a DNA, empresa de Valério, ter feito um empréstimo garantido pelo governo de Minas à época da campanha à reeleição de Azeredo. Mas deixou claro:

- Investigação vale para todo mundo - disse ele, acrescentando que prefere esperar explicações do senador Azeredo. - Nenhum governo está imune a você amanhã cometer um erro. A gravidade é que isso parece não ser uma questão pontual, ela é sistemática.

Alckmin disse não compartilhar da tese de que o governo teria interesse em desviar o foco com o envolvimento de Valério numa campanha tucana.

- Acho que não se pode fazer essa colocação - disse.

(*) do Diário de S.Paulo