Título: Correios usavam SMP&B para pagar patrocínios
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Fonte: O Globo, 27/07/2005, O País, p. 12

Dinheiro da estatal foi repassado pela agência de publicidade de Valério para o financiamento de eventos de ONGs

BRASÍLIA e RIO. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos patrocinou eventos de diversas entidades usando como intermediária a SMP&B, agência do publicitário Marcos Valério. A SMP&B recebia o dinheiro dos Correios e repassava às entidades interessadas. É o caso, por exemplo, da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que recebeu R$90.550 da conta da agência SMP&B no começo deste ano. A entidade informou que no ano passado pediu patrocínio de R$100 mil aos Correios para custear despesas com a realização de um encontro nacional de prefeitos em Brasília.

O patrocínio ao encontro foi aprovado pelo então presidente da estatal, João Henrique, e o dinheiro foi repassado no início deste ano, por meio da conta da SMP&B. A assessoria dos Correios disse que patrocínios como esse saíam normalmente da conta da agência de Valério porque os valores estavam incluídos no contrato de publicidade firmado com a empresa.

Lista de operações da SMP&B tem nome de tucano

Na lista de operações financeiras da SMP&B que está em poder da CPI dos Correios, à frente do nome da entidade consta o nome do tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas, ex-prefeito de Vitória e ex-presidente da entidade. Vellozo Lucas disse que, na época, já não estava mais na FNP. O pedido de patrocínio foi feito pela ex-presidente da entidade, Kátia Born.

"Quando a transferência foi realizada, em 7 de janeiro de 2005, o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas já havia deixado a coordenação há quase 1 ano e 9 meses, não tendo, portanto, qualquer responsabilidade por possíveis irregularidades", diz nota do PSDB capixaba.

A explicação da Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer) é parecida. Em nota, a entidade explicou que o dinheiro que recebeu era referente a patrocínio concedido pelos Correios a encontros de estudos promovidos pela entidade. A associação critica o fato de os Correios não terem avisado que o dinheiro seria repassado por uma agência de publicidade:

"A Ajufer recebeu com imensa estranheza, estarrecimento, incompreensão, indignação o fato de os Correios, por conta própria, portanto sem qualquer anuência da Ajufer, ter delegado a uma empresa de publicidade efetuar depósito de valor de patrocínio legalmente solicitado".

A Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), organizadora do Fórum Social Mundial, informou que os R$500 mil que recebeu da conta também eram referentes a patrocínio dos Correios. A estatal foi uma das patrocinadoras das edições do fórum realizadas em Porto Alegre e Mumbai, na Índia. "A Abong não tem nenhuma responsabilidade no tocante à relação existente entre a ECT e a referida agência de publicidade e, assim como toda a sociedade brasileira, não tinha então nenhum motivo para não acreditar na idoneidade dos procedimentos da empresa pública ECT", diz a nota.

O Instituto dos Magistrados do Distrito Federal (Imag-DF) informou que o dinheiro que recebera da conta de Valério referia-se a pagamentos de anúncios publicados numa revista editada pelo instituto.

- Nós temos anunciantes que são clientes da SMP&B - disse o desembargador aposentado Valter Xavier, presidente do Imag, que afastou-se do Tribunal de Justiça do DF após ser acusado de envolvimento em irregularidades com cartórios.