Título: Cronômetro e um litro de gasolina para medir o desempenho dos carros
Autor: Jason Vogel e Rogério Louro
Fonte: O Globo, 27/07/2005, Carro etc, p. 1

Uma preocupação: fazer textos técnicos, com conteúdo e sem enfado

Testar veículos era algo inovador no fim dos anos 50 e início dos 60. Mauro Salles e seu assistente José Lago tiveram que criar métodos para fazer as medições.

As acelerações e retomadas eram feitas com o cronômetro na mesma mão que segurava o volante. Marcações na pista ajudavam nas avaliações de aceleração e de margem de erro do velocímetro. Tudo era feito numa reta da antiga estrada Rio-São Paulo, pouco depois da Universidade Rural.

- Fizemos medições de madrugada. Nos dois primeiros testes não avisamos à polícia, mas, depois, eles sempre nos ajudaram, fechando a estrada - diz Salles, que hoje tem 72 anos e é publicitário.

No teste de consumo, um reservatório para um litro de combustível ia preso sob o capô. O carro rodava até acabar o combustível.

Dauphine tinha "agulha de tricô fincada na gelatina"

Mesmo nas críticas, o texto de "Automóveis e Aviões" não perdia o humor. A alavanca de marchas do Renault Dauphine, por exemplo, foi descrita como "parecia uma agulha de tricô fincada numa gelatina".

Reportagens sobre as primeiras edições do Salão do Automóvel de São Paulo e de eventos internacionais também faziam parte da coluna. Em 1962, O GLOBO fez a primeira cobertura de um salão internacional, em Paris.

Quando Salles deixou o jornal em 1965, José Lago assumiu o comando da coluna.

- O Zé Lago era muito dedicado. Preocupava-se com a qualidade da informação, com os detalhes e a melhor forma de passá-los ao leitor - lembra Luiz Carlos Secco, que na época escrevia sobre automóveis para jornais de São Paulo.

Sob o comando de Lago (que viria a morrer de infarto em 1989, durante o lançamento de um motor de caminhão), a coluna cresceu e se desdobrou numa revista colorida, o "Suplemento Automóveis, Aviões e Lanchas".

Lançada em abril de 1966, a publicação cobria também corridas de automóveis e turismo. Era quinzenal e se alternava com a tradicional coluna "Automóveis e Aviões".

No ano seguinte, Lago saiu do GLOBO. Tanto a revista quanto a coluna foram substituídas pelo caderno semanal "Veículos e Transportes". Mas, no fim da década de 60, o tema automobilístico perdeu seu brilho nas páginas do jornal.

Legenda da foto: JOSÉ LAGO e um Simca em um dos testes da seção "Automóveis e Aviões", feitos na antiga Rio-São Paulo