Título: HUMOR DO MERCADO VIRA: BOLSA SOBE E DÓLAR CAI
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 27/07/2005, Economia, p. 25

Em dia de fortes variações, Bovespa fecha em alta de 1,38% e moeda recua para R$2,45. Tesouro suspende compras

RIO e BRASÍLIA. Depois de um dia de forte tensão na segunda-feira, em que analistas apostavam até em inversão de tendência e saída de estrangeiros do país, o mercado financeiro teve um dia de recuperação ontem. Pela manhã, até houve um ensaio de nervosismo: já nos minutos iniciais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) operava no vermelho, atingindo a mínima do dia, e o dólar registrava alta de mais de 2%. À tarde, porém, a Bolsa voltou a subir e fechou em alta de 1,38%; a moeda cedeu e encerrou a R$2,45, em baixa 0,48%.

O depoimento morno na CPI dos Correios de Renilda de Souza, mulher do publicitário Marcos Valério, um dos protagonistas do escândalo do mensalão, afrouxou o temor dos investidores de agravamento da crise política. Operadores afirmaram também que houve exageros na segunda-feira, quando a Bolsa fechou em queda de 3,39%, a terceira maior no ano, e o dólar teve a mais forte valorização em um único dia em desde 31 de maio de 2004, de 2,67% (cotado a R$2,462).

- O mercado reagiu, mas continua mudando de humor ao sabor do noticiário político. Como não houve fato importante no depoimento de Renilda de Souza, os investidores voltaram a comprar ações - disse Régis Abreu, diretor de renda variável da Mercatto Gestão de Recursos.

Os investidores, sobretudo da Bolsa, continuam, no entanto, preocupados com a possibilidade de que seja descoberto algo que envolva o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no escândalo. O temor é de que isso poderia levar a uma mudança na condução da política econômica.

- Essa preocupação tem sido um peso para o mercado - disse um diretor de uma corretora de valores.

No mercado de câmbio, analistas acreditam que a moeda perdeu o fôlego à tarde devido a ingressos de recursos no país. Também contribuiu para o recuo da moeda o anúncio de que o Tesouro Nacional vai deixar temporariamente de comprar dólares devido à volatilidade do mercado.

- Levando-se em conta que não foram compras do Tesouro que puxaram o dólar na segunda-feira, mas o próprio mercado, preocupado em ajustar suas posições, a única explicação para a câmbio cair tanto, após uma alta acentuada no mesmo dia, é de que houve fluxo positivo - disse Hideaki Iha, operador de câmbio da corretora Souza Barros.

Segundo o secretário-adjunto do Tesouro, José Antônio Gragnani, a suspensão da compras é uma prática comum adotada para evitar maiores interferências na cotação do dólar:

- Toda vez que o mercado fica volátil, o Tesouro fica de fora. Nosso objetivo é apenas atuar em momentos de baixa volatilidade e em volumes que não interfiram no mercado.

Risco-Brasil cai 0,71% e Global 40 sobe 0,64%

O Tesouro pode comprar até US$4,96 bilhões no mercado de câmbio neste semestre para honrar compromissos da dívida externa. No primeiro semestre, o governo utilizou US$2,42 bilhões em recursos comprados em mercado para pagar parte dessa dívida.

- Nós estamos até um pouco adiante do cronograma (de compra de dólares) que nós tínhamos. Ficar fora do mercado agora não tem impacto na nossa programação - afirmou o secretário.

Acompanhando a trava no pessimismo, o risco-Brasil recuou 0,71%, para 419 pontos centesimais. O Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, subiu 0,64%, para 116,50% do valor de face.

COLABOROU: Martha Beck

inclui quadro: a evolução dos indicadores