Título: PERCEPÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA NO RIO É DAS PIORES
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 27/07/2005, Economia, p. 29

Satisfação dos moradores aparece em oitavo lugar num ranking com 9 regiões metropolitanas, Brasília e Goiânia

Terceiro maior rendimento entre os estados brasileiros, o Rio de Janeiro aparece entre os últimos quando o que está em jogo é a satisfação - ou insatisfação - dos moradores da região metropolitana com suas condições de vida. Cálculo inédito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) concluiu que, no Rio, a avaliação subjetiva dos moradores (em quesitos como renda, moradia, sensação de violência e acesso a serviços públicos) só não é pior que em Belém, Recife e Fortaleza.

O Índice de Condições de Vida (ICV) abrange as nove regiões metropolitanas do país, o plano piloto de Brasília e Goiânia. Entre os 11 locais, o Rio fica em oitavo lugar, num ranking liderado por Brasília. São Paulo está na sexta posição.

O índice foi elaborado com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, que na sua última edição investigou, pela primeira vez, a avaliação subjetiva das famílias sobre suas condições de vida. A FGV criou um índice para comparar as respostas de cada região metropolitana ou capital.

- As condições de vida influem na produtividade da mão-de-obra e são um fator importante para a atração de investimentos - afirmou o coordenador de Projetos da FGV, Fernando Blumenschein.

No quesito violência, Rio e São Paulo são mais otimistas

O economista André Urani, da UFRJ e do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, acredita que a insatisfação dos moradores de Rio e São Paulo é reflexo do esvaziamento econômico dessas regiões metropolitanas nos últimos 15 anos:

- Num ranking de renda, Rio e São Paulo aparecem entre os primeiros. Mas a avaliação negativa feita pelos seus moradores tem a ver com um sentimento de perda.

Apesar da frustração com as condições de vidas, cariocas e paulistanos são menos pessimistas quando se trata só do quesito violência. Oitavo lugar no ranking geral, o Rio aparece em quarto no item violência, com uma avaliação 7,87% acima (ou seja, de menor sensação de insegurança) da média nacional. O mesmo ocorre em São Paulo, que salta da sexta posição geral para a terceira na percepção de violência.

O sociólogo Ignacio Cano, do Instituto Superior de Estudos Religiosos (Iser), explica que este resultado não é contraditório com os elevados índices de criminalidade de Rio e São Paulo. Assim como ocorre na avaliação geral sobre as condições de vida, a percepção de violência também é influenciada pela trajetória recente desse fator no cotidiano dos moradores.

- É como se os cariocas estivessem mais acostumados à violência. Em Belo Horizonte, por exemplo, os índices de criminalidade são menores do que no Rio, mas têm aumentado. Então, é de se esperar que lá a sensação de insegurança seja maior.

Belo Horizonte tem a segunda maior percepção de violência, com uma avaliação 28,14% pior que a média nacional.

Frustração maior entre os mais pobres

Nas rendas maiores, Rio sobe para a quinta posição

Se na média o Rio aparece quase no fim da lista das cidades com melhores condições de vida, entre as famílias mais ricas sua posição melhora e, entre as mais pobres, piora. No conjunto geral, a avaliação dos moradores do Rio é 13,91% pior do que a média nacional. Nas famílias com renda mensal superior a R$7.481, o quadro se inverte: a avaliação é 4,17% superior à da média nacional, o que põe o Rio no quinto lugar do ranking. Já na classe de renda entre R$300 e R$1.041, o Rio cai para a nona posição.

O catador de lixo Paulo Sérgio Benedito, da cooperativa Coopersul, em Laranjeiras, tem dificuldades para pagar as contas da casa. Somando os ganhos da mulher, costureira, a renda familiar é de R$600.

- Às vezes, fica apertado - queixa-se Benedito que, entretanto, se diz satisfeito com as condições de sua moradia, em Belford Roxo. - O lugar é tranqüilo.

Legenda da foto: PAULO SÉRGIO: "Às vezes, fica apertado"