Título: Pai de suspeito denuncia o filho à polícia
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Fonte: O Globo, 27/07/2005, O Mundo, p. 31

Família eritréia pede que população ajude na localização de Muktar Ibrahim. Outro jovem era da Somália

LONDRES. O pai de um dos dois suspeitos de terrorismo identificados pela polícia anteontem foi quem o denunciou às autoridades britânicas. Ao vê-lo nas imagens exibidas na TV, o pai de Muktar Said Ibrahim procurou a polícia para dizer quem ele era.

O jovem de 27 anos, nascido na Eritréia, é considerado o suposto autor de um atentado fracassado contra um ônibus em Hackney, no leste de Londres. Também conhecido como Muktar Mohamed Said, ele chegou ao país em 1990 e em novembro de 2003 solicitou a nacionalidade britânica, concedida em setembro do ano passado.

Num comunicado divulgado pela polícia, seus pais pediram que o público coopere com a sua localização: "Somos uma família pacífica", diz a nota, continuando: "Ficamos chocados quando vimos a foto de Muktar no noticiário nacional. Sugerimos a qualquer um com informações que contacte a polícia".

- É um ato valente e terrível para um pai - elogiou o comissário da Scotland Yard, Ian Blair.

Polícia confisca carro suspeito abandonado

O outro suspeito identificado anteontem pela polícia é originário da Somália e também tem residência legal na Grã-Bretanha, informou o Ministério do Interior. Yasin Hassan Omar, de 24 anos, foi identificado como o suposto terrorista que ia explodir um trem entre as estações de metrô de Warren Street e Oxford Street. Ele chegou à Grã-Bretanha em 1992 e recebeu visto de residência em maio de 2000.

Na semana passada, Omar, Muktar e outros dois homens tentaram repetir os atentados do dia 7 de julho no sistema de transporte público de Londres, mas os artefatos explosivos falharam e eles fugiram. Ontem, a polícia confiscou um carro abandonado em Strawberry Hill, no norte de Londres, relacionado aos atentados fracassados. Segundo as autoridades, o veículo pode ter sido usado por um dos quatro supostos terroristas.

Pesquisa: muçulmanos temem islamofobia

O clima de desconfiança contra muçulmanos na Grã-Bretanha levou centenas de milhares de adeptos do islamismo a pensarem em deixar o país após os atentados de 7 de julho, temendo uma onda de represálias, revela uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal "The Guardian". Segundo a enquete, 90% dos entrevistados rejeitam a violência como forma de ação política, mas 5% acreditam que outros atentados seriam justificados.

A pesquisa também indica que dezenas de milhares de muçulmanos sofrem com o aumento da islamofobia, com 20% dos entrevistados afirmando que eles próprios ou alguém de sua família sofreram abusos desde os atentados. Nas três últimas semanas, a polícia já registrou mais de 1.200 incidentes em que se suspeita de motivação islamofóbica, indo desde abuso verbal a um assassinato. A pesquisa sugere que as estatísticas oficiais estão subestimando o fenômeno. A população muçulmana da Grã-Bretanha é estimada em 1,8 milhão.

Legenda da foto: NO CENTRO de Londres, policiais fazem patrulha no esquema de reforço do aparato de segurança após os atentados