Título: AIDS: 'A ÁSIA PODE SER COMO A ÁFRICA AMANHÃ'
Autor: Leonardo Valente
Fonte: O Globo, 27/07/2005, O Mundo/Ciencia e Vida, p. 32

Jim Yong Kim, diretor da OMS para a doença, diz que continente mais populoso se tornou grande preocupação

O rápido crescimento da Aids na Ásia é hoje uma das maiores preocupações da OMS, segundo o diretor do departamento de HIV/Aids da entidade, Jim Yong Kim. Para ele, se medidas não forem tomadas urgentemente, o perfil da epidemia no continente pode mudar e a Ásia se tornar uma nova África.

A rápida disseminação do HIV na Ásia, região mais populosa do planeta, pode fazer com que a epidemia de Aids no mundo adquira novas características, com mais variações do vírus e maior dificuldade de tratamento?

JIM YONG KIM: Essa é uma grande preocupação. A Aids na Ásia está tomando proporções assustadoras, assim como outras epidemias, como a gripe aviária. Quanto maior a população sob risco, maior a chance de recombinação genética dos vírus. China e Índia são grandes preocupações. Mas ações de prevenção já estão sendo tomadas.

Se não forem tomadas medidas preventivas suficientes, a Ásia corre o risco de se tornar uma nova África?

KIM: Esse é o nosso maior medo. A Ásia pode ser como a África amanhã se a evolução da epidemia continuar nessas proporções. A Aids na África é um desastre humano e tememos muito que o mesmo possa acontecer no continente asiático. É preciso concentrar esforços num grande trabalho preventivo e, para isso, a ação de governos é muito importante.

Estudos estão mostrando que os casos de Aids em países islâmicos estão aumentando, principalmente nas prisões. Chegou-se a falar que as prisões do Irã são incubadoras de Aids. Como a OMS está agindo em relação a esses países?

KIM: Realmente a doença tem demonstrado um crescimento preocupante em países islâmicos. Mas o fato de serem islâmicos ou terem regimes fechados não está impedindo que ações eficientes sejam tomadas. O Irã hoje tem o programa de prevenção mais efetivo da região, inclusive nas prisões. Também estamos realizando trabalhos bem-sucedidos no Sudão e em outros países. O islamismo não é uma barreira para as ações de combate à doença.

Em relação à América Latina, em especial ao Brasil, que avaliação o senhor faz da Aids na região?

KIM: Um dos motivos de minha vinda ao Brasil foi para dizer obrigado. O Brasil tem ótimos centros de pesquisa, investe em tratamento e prevenção, e tem obtido bons resultados. Argentina e México também estão no mesmo caminho.