Título: Ritmo mais lento na indústria
Autor: Cássia Almeida e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 28/07/2005, Economia, p. 25

Juros fazem industriais apostarem em demanda, produção e emprego menores

Juros altos e valorização cambial deixaram os empresários da indústria brasileira mais pessimistas este mês. A Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), desenhou um cenário atual e futuro menos promissor, com os números se aproximando de julho de 2003, mês do auge da retração econômica recente. Enquanto, em abril, 16% dos industriais consideravam a demanda atual fraca, em julho a parcela subiu para 27%. O mesmo aconteceu na previsão para o próximo trimestre: 55% acreditavam em demanda maior em abril, percentual que caiu para 47% este mês. Os que apostam em consumo menor aumentaram de 11% para 17%.

¿ O aperto da política monetária, com os juros subindo desde setembro (a taxa básica Selic está em 19,75% ao ano), teve impacto na indústria. A percepção de demanda está menos favorável, acumulou-se mais estoque e a parcela dos empresários que acredita em piora dos negócios no futuro aumentou ¿ disse Aloisio Campelo, economista da FGV.

FGV vê setor de bens duráveis em alta

De qualquer forma, segundo o economista, apesar de terem os piores números desde julho de 2003, as avaliações estão longe daquele período recessivo. Por exemplo, naquele mês, 42% percebiam uma demanda menor. Para essa análise, Campelo olhou a média histórica dos últimos dez anos. Nessa comparação, percebeu que as respostas deste mês estão dentro da média.

¿ O que a pesquisa mostra é que a indústria continua crescendo, mas num ritmo menor. O setor de bens duráveis, por exemplo, está em ascensão ¿ observa Campelo.

Enquanto a política monetária mais austera afetou o consumo interno, a valorização do real fez os empresários terem expectativa menor de vendas externas. Recuou o percentual das indústrias que consideram fortes as encomendas do exterior. Em abril, essa parcela era de 27%. Agora, em julho, caiu para 12%. Na outra ponta, os que consideram a demanda externa fraca aumentou de 12% para 24%:

¿ Apesar das queixas dos exportadores contra a valorização do real, a sondagem não tinha captado qualquer efeito do câmbio. Em julho, pela primeira vez, isso aconteceu. Isso pode indicar que, daqui para a frente, teremos um arrefecimento das exportações.

Refletindo o cenário de desaceleração indicado pela sondagem, o setor de embalagens já reviu duas vezes sua previsão de crescimento para 2005. O fraco desempenho no primeiro trimestre levou os empresários a trocarem a estimativa inicial de 4,5% por variação entre 3% e 3,5%. Agora, o setor diz que o mais provável é um resultado de 3%, depois de ter crescido 2,26% em 2004.

¿ Nós não estamos vendo o que pode mudar esse quadro a curto prazo ¿ afirmou o presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), Fabio Mestriner.

Abimaq pede a Lula ruptura contra juros

Mestriner não fala em estagnação, mas em crescimento abaixo do esperado. Foi assim no primeiro trimestre do ano. As vendas físicas apresentaram variação de 1,2%, contra previsão original de 5% para o período. Os dados do segundo trimestre ainda não estão fechados, mas Mestriner adianta que os resultados não foram melhores.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, foi mais longe. Escreveu uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo uma ¿ruptura na atual política econômica¿, segundo ele, asfixiada pelos juros.

¿ Começamos o ano imaginando crescer até 15%. Agora, se já empatarmos com a produção de 2004 será um grande resultado ¿ disse.

A crise política, representada pelo temor de que as denúncias de corrupção possam envolver também o presidente Lula, é um componente à parte. Mestriner, da Abre, diz que a primeira reação dos empresários é ¿tirar o pé do acelerador e engavetar os projetos anteriormente aprovados¿. Mas, na sondagem, esta preocupação não apareceu.