Título: JURO AO CONSUMIDOR RECUOU EM JUNHO
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 28/07/2005, Economia, p. 26

Para BC, acordos entre bancos e varejo contribuíram para 1ª queda no ano

BRASÍLIA. Em junho, os juros dos empréstimos recuaram pela primeira vez no ano. A taxa média das principais modalidades recuou de 49,4% em maio para 49,02% ao ano no mês passado, apesar da manutenção da Selic pelo Banco Central (BC) em 19,75%. Para pessoas físicas, a redução foi ainda maior, de 65,7% para 64,7%. Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, esse recuo é uma tendência e pode ser explicado por dois motivos: juros de 360 dias mais baixos no mercado futuro e acordos de bancos com varejistas, cujas operações têm custos mais baixos.

Segundo ele, o reflexo dos acordos de bancos com lojas ficou evidente no comportamento das taxas para compra de bens como eletrodomésticos e móveis. O juro final do segmento baixou de 57,8% para 54,1% ao ano no mês passado.

¿ Os bancos receberam várias carteiras de crédito de perfis muito bons e seguros, a custos menores, com a assinatura desses convênios. Uma instituição, por exemplo, aumentou em 36% sua carteira de crédito em junho graças a um convênio com uma rede de varejo ¿ disse Lopes.

Terça-feira, por exemplo, o Bradesco fechou um acordo com a Leader Magazine no segmento de cartão de crédito. Com isso, a rede será seu correspondente bancário no Rio e no Espírito Santo.

¿ As taxas finais começam a apresentar queda, o que pode se confirmar nos próximos meses, com uma característica importante de aumento de prazos e redução de inadimplência ¿ disse Lopes.

Anefac: crédito melhor que o esperado em meio à crise

O recuo dos juros no mercado futuro teve maior impacto no crédito pessoal, cujas taxas são prefixadas. O custo do crédito direto ao consumidor (CDC) diminuiu de 77,2% para 76,2% ao ano mês passado, enquanto o crédito consignado (desconto em folha) ficou estável em 37,2% ao ano. Essa modalidade registrou aumento de 116,1% do volume de recursos emprestados nos últimos 12 meses, para um total de R$18,72 bilhões em junho. O cheque especial, porém, subiu de 147,6% para 147,8% ao ano.

¿ Os números do crédito estão melhores do que se esperava em vista da crise política ¿ disse Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). ¿ Os bancos ficaram mais criteriosos, assim não houve aumento expressivo de recursos emprestados.

Segundo Oliveira, o relatório do BC mostra que os bancos não devem subir os juros porque reduziram taxas durante a crise política. Ele lembrou que os pagamentos com atraso superior a 15 dias recuaram de 7,7% para 7,3% em junho.

A taxa média para empresas caiu de 33,7% para 33,4% ao ano mês passado. Oliveira lembrou que os bancos reduziram seu spread (diferença entre a taxa cobrada do cliente e o custo de captação dos recursos): foi o primeiro recuo no ano, de 30% para 29,8%. O volume total de crédito subiu de 25,4% para 27,6% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior nível desde maio de 2001.

No segmento livre (descontadas as operações obrigatórias de habitação, rural, microcrédito e BNDES), os bancos têm R$306,9 bilhões em recursos emprestados, ou 16,1% do PIB, maior valor desde o início da série histórica do BC.