Título: CPI pede prisão de Valério mas deixa para terça-feira decisão sobre Dirceu
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 28/07/2005, O País, p. 4

Também foi aprovada decretação da indisponibilidade dos bens do empresário

BRASÍLIA. A CPI dos Correios pediu ontem que o Ministério Público peça à Justiça a prisão preventiva do empresário Marcos Valério de Souza. O requerimento foi aprovado por 19 votos a um, o do deputado Nélson Meurer (PP-PR). Após 49 dias de investigações, este é o primeiro pedido de punição sugerido pela comissão. A proposta agora será enviada ao Ministério Público Federal, que decidirá se formalizará ou não o pedido à Justiça. Também foi aprovada a decretação da indisponibilidade dos bens do empresário. Por falta de acordo, foi adiada para terça-feira a votação dos requerimentos de convocação do ex-ministro José Dirceu e do presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG).

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), designado ontem um dos sub-relatores da CPI, a recomendação da prisão preventiva de Valério chega tarde. Desde a semana passada, quando a polícia flagrou na casa do policial civil aposentado Marco Túlio Prata documentos da DNA Propaganda queimados, o tucano vinha sugerindo a medida:

¿ A proposta visa a mostrar também o poder de coerção da CPI. Não é uma medida impositiva ao Ministério Público, mas queremos a análise da nossa proposta, que possibilita ainda a indisponibilidade dos bens do empresário.

Relator diz que pedido demorou

O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), admitiu a demora:

¿ Hoje temos fatos novos que apontam a tentativa de obstrução de nossos trabalhos. Se tivéssemos o poder da premonição, seu requerimento poderia ter sido mais útil .

O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), outro defensor da prisão preventiva, apresentou uma justificativa extra:

¿ É essencial a preservação da vida de Valério.

Meurer, o único voto contra, disse que, até agora, Valério não se recusou a depor:

¿ Ele também não ameaça fugir do país. Acho que estamos nos excedendo.

Imediatamente, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) contestou:

¿ Não há de maneira alguma abuso de poder da CPI. Na verdade, estamos fazendo apenas uma recomendação. E isso porque tememos a destruição de outras provas.

A deputada Denise Frossard (PPS-RJ) votou a favor, mas fez uma ressalva à CPI de que a investigação na comissão é política e que, futuramente, caberá ao Poder Judiciário julgar criminalmente os culpados:

¿ Quando nossos (colegas políticos) desfilarem aqui na frente, vou solicitar a prisão preventiva deles também.

Além de decidir na próxima semana o novo calendário de convocações, descartando algumas já aprovadas e inserindo outras mais polêmicas, a CPI está disposta a alterar sua rotina de trabalho. Para tentar reduzir o vazamento de informações sigilosas, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), está solicitando que cada partido indique um representante oficial para ter acesso a toda documentação que tem chegado à comissão.

As convocações consideradas secundárias serão enviadas à Polícia Federal ou serão realizadas em sessões reduzidas com um grupo de representantes. Apenas os depoimentos mais polêmicos continuarão ocorrendo em audiências públicas abertas e transmitidas pela TV Senado.