Título: Tucanos e pefelistas procuram FH para avaliar crise do governo
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 28/07/2005, O País, p. 8

Para ex-presidente, momento é grave e Lula não sabe lidar com denúncias

BRASÍLIA. O telefone do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem tocado insistentemente desde a eclosão da crise política. Do outro lado da linha não estão apenas tucanos, mas políticos de outros partidos. No fim da tarde de terça-feira, por exemplo, Fernando Henrique passou duas horas e meia com o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), para avaliar o momento político e falar do futuro. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), participou apenas da primeira meia hora da conversa.

Em comum, PSDB e PFL têm a convicção de que, até agora, não há qualquer razão para pensar no impeachment do presidente Lula. Mas a avaliação de Fernando Henrique e dos senadores é a de que a crise é extremamente grave e o governo não está lidando de forma correta com os problemas. O ex-presidente, como Agripino, atribuiu a essa má condução do governo, e de Lula, os efeitos da crise no mercado financeiro.

¿ O presidente Fernando Henrique tem a preocupação de quem já foi governo e tem responsabilidade ¿ comentou Agripino.

FH: desgaste é do governo e também do Congresso

O desgaste, no entanto, diz Fernando Henrique, não é apenas do governo. O Congresso, para ele, vive um mau momento, sob a investigação das denúncias de corrupção e financiamento ilegal de campanha que envolvem parlamentares de vários partidos, inclusive PSDB e PFL. Por isso, não estaria em condições para julgar Lula.

Segundo Agripino, essa análise não implica evitar que fatos venham à tona:

¿ Não vamos enterrar qualquer investigação.

Antes de sair, Virgílio brincou com o ex-presidente, fazendo uma crítica ao comportamento dos petistas à época do governo tucano:

¿ O senhor já imaginou se isso acontecesse no seu governo, o que eles não fariam com a gente?

¿ Imagine só! ¿ concordou Fernando Henrique.

O ex-presidente disse a Virgílio que o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo, deve explicar à CPI dos Correios o quanto antes as denúncias da participação das empresas de Marcos Valério no financiamento da campanha eleitoral de 1998 em Minas. Para Fernando Henrique, o partido deve mostrar que os fatos do passado não são comparáveis ao atual esquema em apuração e, sobretudo, essa comparação não resolve o problema do governo petista.

O encontro aconteceu no apartamento de Fernando Henrique, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. E teve participações esporádicas da ex-primeira dama Ruth Cardoso.