Título: `Quem tem fome não pode esperar até a eleição¿
Autor: Maiá Menezes e Aloysio Balbi
Fonte: O Globo, 26/10/2004, O país, p. 5

A seis dias do segundo turno das eleições municipais, a governadora Rosinha Matheus, novamente em Campos, classificou ontem de inadmissível a decisão da Justiça Eleitoral, que sábado passado suspendeu os programas sociais do governo do estado, do governo federal e da prefeitura na cidade. Rosinha, que participou de quatro atividades em uma agenda administrativa, e não eleitoral, afirmou que é vítima de perseguição.

¿Não posso parar de trabalhar para o povo¿, diz

A governadora garantiu que vai cumprir a lei. No entanto, reagiu à determinação da juíza Denise Appolinária, da 76 Zona Eleitoral:

¿ Não posso parar de trabalhar para o povo no meio do meu mandato. Tivemos nossos programas sociais suspensos pela Justiça. Eu aceitei a decisão , mas hoje a Procuradoria do Estado está recorrendo, porque acho inadmissível que a população fique sem o benefício por conta da eleição de a, b ou c. Quem tem fome não pode esperar uma semana até a eleição para poder comer ¿ afirmou a governadora, ao discursar no palco de um dos dois Centros de Ensino Técnico e Profissionalizante (Cetep) que inaugurou na cidade.

A pedido do Ministério Público, a Justiça Eleitoral suspendeu o Bolsa Família, do governo federal; o Vale-Alimentação, da prefeitura de Campos; e o Cheque Cidadão, a distribuição de cestas básicas e o cadastramento para o programa Jovens Pela Paz ¿ os três últimos administrados pelo governo do estado. Segundo o Ministério Público, os projetos estavam sendo usados eleitoralmente.

Na tarde do domingo passado, O GLOBO flagrou uma fila na Favela Tira-Gosto, em Campos, com cerca de cem pessoas esperando a distribuição do cheque, que estava sendo entregue num barraco. Alegando falta de segurança, fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) não impediram a distribuição. Ontem, a Justiça Eleitoral recebeu novas denúncias de que a distribuição estaria sendo mantida, mas não conseguiu comprová-las.

A governadora propôs mudanças na legislação eleitoral para que as eleições de prefeito e governador passem a coincidir. Ela afirmou que não pode parar de governar porque em algumas cidades a campanha prosseguiu por causa do segundo turno.

¿ Lamentavelmente, os que entram na Justiça contra os programas sociais não sabem o que é fome de verdade. Só conhecem a miséria de ouvir falar ¿ afirmou a governadora, que voltou a reclamar da imprensa:

¿ Lamentavelmente, a imprensa do Rio de Janeiro vem tentando jogar a opinião pública contra o governo do estado e não mostra a boas ações que estamos realizando. E, quando mostram, tentam dar conotação política ¿ disse a governadora.

Rosinha rebate ataques do prefeito Cesar Maia

Rosinha reagiu à declaração do prefeito Cesar Maia que anteontem, ao participar em Campos da campanha do candidato do PDT à prefeitura, Carlos Alberto Campista, afirmara que um mar de lama circunda o Palácio Guanabara:

¿ Ele errou de endereço. A lama está no Palácio da Cidade. O Cesar Maia tem que explicar como conseguiu comprar o grande apartamento onde mora com a família ¿ disse Rosinha, que apóia o candidato do PMDB, Geraldo Pudim.

Ontem em Campos, Rosinha lançou a pedra fundamental da Empresa Brasileira de Eletrodomésticos, primeira a se instalar na área. Segundo a governadora, a empresa vai gerar 400 empregos diretos e 2.500 indiretos em quatro anos.

Nas inaugurações dos Ceteps, a governadora informou que mais três unidades da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica) serão implantadas no município até o fim do ano. As novas unidades custarão ao estado R$ 659.832,00.