Título: Operador do mercado sacou R$6 milhões de Valério
Autor: Rodirgo Rangel e Adriano Ceolin
Fonte: O Globo, 28/07/2005, O País, p. 9

José Carlos Batista tem relações com a corretora Bônus-Banval, onde trabalhou a filha do deputado Janene

BRASÍLIA. José Carlos Batista, apontado como o responsável pela empresa que sacou o segundo maior volume de dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério Souza, é um homem com larga experiência no mercado financeiro. Levantamento feito pelo GLOBO revela que desde 1975 ele trabalha em corretoras de câmbio e valores mobiliários e em empresas de cobrança.

Também chama atenção uma ligação de Batista com a corretora Bônus-Banval, que é considerada um possível elo entre as empresas de Marcos Valério e o líder do PP na Câmara, José Janene (PR).

Batista, de 49 anos, aparece nos documentos que estão na CPI dos Correios como o responsável pela empresa Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações Ltda, supostamente sediada no município de Santo André, no ABC paulista. A empresa foi destinatária de R$6 milhões saídos das contas de Valério.

A ligação do representante da Guaranhuns com corretoras de câmbio reforça uma suspeita levantada ontem por integrantes da CPI: a de que Batista poderia ser um dos responsáveis por fazer remessas ilegais de dinheiro de Valério para contas no exterior.

A relação obtida pelo GLOBO revela que nos últimos 30 anos Batista passou por dez empresas do mercado financeiro, sendo que quatro delas encontram-se em processo de liquidação no Banco Central ¿ medida adotada a partir da constatação de irregularidades.

A primeira empresa da lista é a Haspa Corretora de Câmbio, sediada em Avanhandava (SP). Batista trabalhou na Haspa entre 1975 e 1984. A partir de então, ele trabalhou, por exemplo, na Takeover Comércio e Intermediação de Negócios, já extinta, e na Gave Corretora de Títulos e Valores Imobiliárias, também de São Paulo. Batista passou ainda por empresas conhecidas, como a Itaú Corretora de Valores S/A e a Magliano Corretora de Câmbio.

Embora tenha recebido dinheiro da Gerdau e da Bônus-Banval, essas duas empresas não figuram na lista das que o tiveram como funcionário. Batista figura como proprietário de duas empresas. Uma delas é a BJL Intermediação Ltda, que tem sede no bairro Campestre, no mesmo município de Santo André onde supostamente funcionaria a Guaranhuns. Na BJL, Batista teria como sócia sua mulher, Maria Teresa. A empresa foi constituída em 1997.

Batista, um dos mais novos personagens do escândalo, tem se mostrado um personagem obscuro. Nos últimos anos, ele recebeu dinheiro de uma série de empresas. Entre elas, a Metalúrgica Gerdau S/A, em 2003. Naquele mesmo ano, Batista teve entre suas fontes pagadoras a Bônus-Banval Participações Ltda, dado que joga ainda mais suspeitas sobre as atividades dele.

O nome da Bônus-Banval já tinha aparecido antes no emaranhado de relações entre Marcos Valério e as pessoas que fizeram saques em suas contas. Benoni Nascimento de Moura, responsável por um saque de R$255 mil da conta da DNA Propaganda no ano passado, foi empregado da corretora, onde também trabalhava Michelle Kremmer Janene, filha do deputado.

Para o senador Cesar Borges (PFL-BA), integrante da CPI, a Guaranhuns e José Batista devem ser os próximos alvos preferenciais da comissão. Ontem, o senador encaminhou requerimento para que a CPI quebre o sigilo bancário da empresa e para que a Polícia Federal rastreie os endereços e as ligações de José Batista com empresários e políticos.

¿ Tudo indica que essa empresa recebia os recursos e dava outra destinação ilegal, como a compra de dólares, por exemplo ¿ disse o senador.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) também quer que haja uma investigação rigorosa sobre o caso.

¿ É muito estranho que uma empresa, cujo endereço é um terreno baldio, tenha recebido R$6 milhões das empresas de Marcos Valério ¿ disse a senadora.