Título: DELÚBIO: EMPRÉSTIMOS AJUDARAM NA POSSE
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 28/07/2005, O País, p. 10

Ex-tesoureiro disse que procurou Valério porque ele trabalhara para tucanos em MG

BRASÍLIA. Em seu depoimento à Procuradoria Geral da República, no último dia 15 de julho, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares disse que os R$5,4 milhões de dois empréstimos contraídos pelo PT junto ao Banco Rural e ao BMG, em fevereiro e maio de 2003, dos quais Marcos Valério foi avalista, serviram para pagar despesas relativas à posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao período de transição entre o governo Fernando Henrique e o governo Lula. Segundo ele, o cerimonial da Presidência não tinha recursos para cobrir todos os gastos com a posse presidencial.

No início de 2003 os diretórios estaduais do PT acumulavam dívidas referentes à campanha do ano anterior de cerca de R$20 milhões, a maior parte relativa a despesas de caixa dois. Delúbio não soube precisar o valor total original dos financiamentos depois repassado pelas empresas de Marcos Valério ao partido. Ele estimou que fosse algo em torno de R$35 milhões a R$40 milhões. De acordo com o empresário, que depôs um dia antes na Procuradoria Geral da República, seriam R$39.219.780.

Delúbio prestou depoimento um dia depois de Marcos Valério fazer o mesmo, na sede da Procuradoria Geral da República, em Brasília. Os dois contaram como teria funcionado o esquema dos cinco empréstimos bancários feitos por empresas de Marcos Valério, entre fevereiro de 2003 e abril de 2004, totalizando R$39 milhões, para pagar dívidas do PT e dos partidos aliados nas eleições de 2002 e na preparação para a disputa eleitoral de 2004. O empresário disse que a dívida petista com suas empresas já atingiria R$93 milhões. Além do PT, o esquema teria beneficiado outros seis partidos, segundo o ex-tesoureiro: PTB, PL, PSB, PCdoB, PP e parte do PMDB.

Delúbio afirmou também ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que recorreu ao empresário Marcos Valério para ajudar o PT porque sabia de sua experiência na captação de recursos em campanhas eleitorais como as do então governador de Minas Gerais e candidato à reeleição, Eduardo Azeredo (PSDB) ¿ hoje senador e presidente nacional do PSDB ¿ e do então candidato a deputado federal Aécio Neves (PSDB), atual governador mineiro, ambas em 1998.

Delúbio disse que procurou Marcos Valério porque o empresário ¿tinha crédito bancário e experiência na captação de recursos para campanhas eleitorais, como fizera na de 1998, na eleição do então governador Eduardo Azeredo e do deputado Aécio Neves¿.

O ex-tesoureiro contou ter sido apresentado a Marcos Valério no segundo semestre de 2002 ¿por uns amigos de Minas, entre eles o deputado Virgílio Guimarães (PT)¿. Segundo Delúbio, esses correligionários do PT que o apresentaram ao empresário teriam mencionado a experiência de Marcos Valério em campanhas eleitorais.

Dirceu não sabia da operação, disse ex-tesoureiro

Delúbio afirmou que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira sabia do acordo informal com Marcos Valério para a obtenção dos empréstimos, mas disse que a operação era ignorada pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e qualquer outro membro do governo.

Já Marcos Valério afirmou que tanto Dirceu quanto Pereira sabiam do esquema. Ele disse ter conhecido Delúbio no segundo turno das eleições presidenciais em 2002. Afirmou que o dinheiro obtido por suas empresas era repassado para credores e dirigentes partidários indicados por Delúbio. Segundo Marcos Valério, os repasses corresponderam ao ¿valor aproximado dos empréstimos, em torno de R$40 milhões¿.