Título: Grampo mostra ligação de Arrieta com o mensalão
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 28/07/2005, O País, p. 11

BRASÍLIA. O advogado Marcelo Fontoura do Valle, suposto integrante da organização do argentino César de la Cruz Arrieta, confirmou ontem o conteúdo das conversas que teve no início do ano com o empresário Márcio Pavan sobre a formação de uma caixinha para compra de apoio político e sobre os R$10 milhões que o PT estaria arrecadando para o PTB. Nas conversas, Pavan e Fontoura falam também sobre o pagamento de R$50 mil numa transação relacionada à campanha do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) e à disputa pela liderança.

Os diálogos foram gravados com autorização judicial em janeiro e fevereiro deste ano, seis meses antes de Jefferson denunciar a existência de uma mesada da cúpula do PT para a base governista. Testemunha-chave nas investigações sobre a origem do suposto mensalão, Fontoura foi localizado ontem pelo GLOBO num apartamento na Asa Sul, na área central de Brasília. Depois de um começo arredio, ele reconheceu os diálogos e disse que, se for chamado, dirá tudo ao procurador-geral da República, Antonio Fernando, e à CPI dos Correios.

¿ Não tenho nada para esconder ¿ afirmou Fontoura.

Nas conversas, gravadas durante a Operação Tango da Polícia Federal e do Ministério Público, Pavan e Fontoura mencionaram os R$10 milhões que o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, estaria arrecadando para pagar o PTB. O dinheiro, segundo Pavan, seria para ¿acalmar a gurizada¿ do deputado Roberto Jefferson e facilitar a vitória do PT na disputa para a presidência da Câmara. Delúbio teria pedido, por intermédio de um homem conhecido como Dênis, R$70 mil para completar a formação do caixa.

Em outras conversas, Pavan e Fontoura citam Virgílio Guimarães, candidato dissidente do PT à presidência da Câmara, e a disputa pela liderança do PMDB na Câmara. Num diálogo, Pavan diz que ¿ele acabou de chegar, o cara tá querendo uma grana, está apoiando o Virgílio para presidente da Câmara¿. Na frase seguinte, segundo relatório reservado do Ministério Público, Pavan afirma que ¿ele (o deputado que estaria querendo o dinheiro) seria o líder do PMDB. Ele precisa de uns 50 mil¿.

Nesse período, o deputado Saraiva Felipe (MG), hoje ministro da Saúde, e o deputado José Borba (PR) estavam em queda-de-braço pelo comando do PMDB na Câmara. Na conversa, os dois não deixam claro o que estavam esperando em troca da ajuda financeira. Antes da Operação Tango, Pavan e Fontoura tinham projetos que dependiam de apoio político e de decisões governamentais.

Um dos principais projetos era o lançamento de uma carteira de aproximadamente R$50 milhões em títulos para o financiamento agrícola. Eles queriam que o Banco do Brasil e o Banco do Povo entrassem no negócio como avalistas. Fontoura também queria o apoio de pessoas influentes no governo para liberar o pagamento da milionária indenização do terreno onde foi construído o aeroporto de Goiabeiras, em Vitória.

Pavan e Arrieta estão presos em Porto Alegre. Fontoura aguarda em liberdade o julgamento do processo por formação de quadrilha.